Eu, Malagueta, cidadão votante deste Portugal, declaro sobre os candidatos cujo nome vou ver no boletim de voto no próximo domingo. Por ordem de sorteio.
Garcia Pereira, O Totalista
Presidenciais, Legislativas, Autárquicas, e suspeito - a ignorância, e falta de tempo, não me permite confirmar - também para a Junta de Freguesia. É impressionante, o homem vai a todas. Parece um forcado, cheio de gana e genica, que mal vê sombra de um boletim de voto agarra-se a ele sem dó e compaixão - principalmente por nós que nos cansamos de o ver calcorrear os noticiários televisivos a reboque da imparcialidade mediática.
A mim lembra-me um daqueles tios por quem não tenho uma especial ligação afectiva, mas que me habituei a ver em todas as reuniões familiares. No dia que deixar de aparecer se calhar vou-lhe sentir a falta. Agora, não.
Aníbal Cavaco Silva, O Falso Messias
Não gostando da personagem, e não querendo que saia vencedor destas eleições, também não me parece que a democracia portuguesa esteja em perigo, ou que venha especial mal ao País, por o termos como presidente. Não. O que me irrita solenemente é ver o equívoco histórico que infecta a percepção de quase metade dos meus concidadãos.
Essa ideia peregrina, que até já deu canção no folclore da campanha, que o candidato Silva é competente, honesto, e nos vai salvar a todos e ao País. Aos meus olhos isto é falso e trai os factos, para além de ser tão demagógico que o Bloco de Esquerda deve andar com ciúmes. Senão, veja-se.
O candidato Silva conduziu os destinos do Governo durante 10 anos e o que é que aconteceu? Portugal teve o maior impulso de desenvolvimento económico e social do período pós-25 de Abril. É verdade. Mas devemo-lo a ele, ou ao dinheiro e directrizes da União Europeia, que provocaram alterações profundas na organização económica do país e explodiram a diminuta capacidade de investimento do Estado? Este senhor mudou alguma coisa de estruturante e relevante na forma como o Estado vai à sua vida? Da cabeça do seu Governo veio alguma orientação estratégica para o país que tivesse efectivamente resultado em algo mais do que uns inflamados discursos de circunstância para enganar a populaça? Gastou-se uma pipa de massa para colocar um satélite em órbita, é certo (ó Pátria, levantam-se as almas!), mas o país mudou para melhor?
Não. Não mudou.
Não bastante ainda tivémos de aturar a sua pose de superior inteligência que tudo sabe e tudo resolve.
Para mim, a grande infelicidade de toda esta história é que esta imagem messiânica que parece existir do candidato Silva não o seria se esse grande palerma que dá pelo nome António Guterres não tivesse deitado por terra a confiança de um Portugal que acreditava.
A fechar, lembro-me ainda que nos tempos idos este senhor tinha hesitações sobre a União Europeia (oh, Thatcher, volta para trás), e o Santana Lopes como Secretário de Estado da Cultura (?!).
Candidato Silva, não obrigado.
Francisco Louçã, O Iluminado Canhoto
Rapaz dado aos livros e ao estudo sério, eminente farol do economês luso, é orgulho supimpa de uma certa esquerda burguesa que aprecia as coisas boas da vida, e se revê numa ideia de último reduto independente das maquinações partidárias. Especialista das contas, e perito na palavra, daria um espectacular líder de direita. Mas deu-lhe para o outro lado e assim se perdeu uma bela oportunidade política. Até porque daquele lado da barricada a questão resume-se a ver por quanto tempo ainda os comunistas de bifana à boca vão resistir à marcha do tempo.
E, embora até o compreenda, não aceito a instrumentalização grosseira que o BE, com o Francisco Louçã à frente, tem feito destas eleições assumindo-as despuradamente como um tempo de antena para programas de governo.
Até lhes prefiro os comunas. Sempre são mais típicos, com o Avante e a foice.
Manuel Alegre, O Poeta Excursionista
Um pulinho à raia para ver o sítio do pulo para a fuga do exílio. Um beijo no busto do Miguel Torga porque este homem era - e ainda é - grande. Uns tirinhos aos pratos para prazer dos senhores telespectadores que assim podem ver como eu amo a terra-pátria. Conhecem aqueles folhetos para excursões de terceira idade? Do tipo "Visita a Fátima. Com partida de manhã da Praça das Cebolas, passeio pelo Santuário, oferta de uma imagem da santinha. Volta a Lisboa. Asterisco: Farnel não incluído". É o que esta campanha do Manuel Alegre me faz lembrar. Se calhar como negócio tem pernas para andar - Viagens À Memória da Democracia -, mas como proposta de candidatura não vai longe. É irrelevante e inconsequente.
O melhor resumo de substância que vi do Manuel Alegre foi-me dado por uma peixeira de Matosinhos - grande terra! - quando ele por lá se passeou em homenagem-que-depois-não-foi ao falecido Sousa Franco. Dá um grande chocho no candidato e dispara à queima-roupa: ó Senhor Doutor, você é o mais giro deles todos.
Coisa que deve ter deixado o Manuel todo Alegre.
Jerónimo de Sousa, O Risco no Disco
Confesso que me sinto dividido pelos comunistas. Por um lado, admiro-lhes a constância de ideias e ideais. Pelo outro, cobro-lhes a incapacidade de se adaptarem ao mundo de hoje. Se há partido necessitado de uma 'terceira via' é o PCP. Era útil para eles e para nós, porque considero que a paisagem política nacional precisa do PCP para meter umas buchas polémicas no Parlamento. Senão quem é que vai defender as causas do aborto, da regionalização, e outras coisas importantes de se falar, que tantas vezes caem pelo chão vítimas das oportunidades do Bloco Central. O BE é que não é, porque pelo meio de tanta demagogia barata acabam por ser desonestos.
Quando o Jerónimo apareceu nas legislativas o homem surpreendeu os Portugueses com um discurso mais simpático e menos institucional. Falou com palavras mais simples e mais familiares, distante da praxis comunista. Depois de décadas de Cunhal a coisa fez alguma mossa e segurou o eleitorado. Mas chegou a hora desta campanha e o que é que se ouviu? A lenga-lenga do costume, mas agora pior, sem o apelo e simpatia da outra vez. É pena porque o Jerónimo perde, o PCP perde, e o País e nós também.
Até amanhã, camaradas.
Mário Soares, O Pápa-Pátria
Velhote, o tanas. Devia ter sido o grito de guerra da entourage socialista para esta campanha. É verdadeiramente incrível a resistência que mostra aos 81 anos. Impressionante!
É verdade que vê-lo novamente sentado na cadeira da Presidência não é coisa que me leve às lágrimas, mas de todos os que se apresentam a votação ainda me parece a melhor escolha. Porque se é para olhar para um passado de combate pela democracia o homem bate-os aos pontos. Porque se é para olhar para um passado de interesse pela economia do país os acordos do FMI - que foram difíceis e polémicos, mas necessários -, e a opção decidida por um futuro europeu, demonstram-no efusivamente. Porque se é para olhar para um passado de capacidade de leitura estratégica a crítica feroz à guerra do Iraque não deixam margens para dúvidas.
Porque não há melhor.