sábado, outubro 20, 2007

Uma coisa estúpida, mas no bom sentido

Hoje de manhã, ao dirigir-me para o trabalho tinha o rádio sintonizado na M80 quando ouvi a Margarida Rebelo Pinto (a escritora do Sei Lá e de mais uns livros). A estação convida uma pessoa a escolher uma música por dia durante uma semana. Esta semana foi dela. Hoje lá escolheu uma música e, ao explicar porquê, fez-me gelar o sangue - disse algo do género "ouvir esta música é como cortar os pulsos, mas no bom sentido".
Que linda imagem, que linda comparação, que hipérbole libertadora, que paradoxo! Só uma mente privilegiada consegue lembrar-se de um pensamento com esta profundidade, que permitem tantas segundas leituras. Só apetece dizer que ler um livro da Margarida Rebelo Pinto é como espetar um garfo num olho, mas no bom sentido, claro está. Muito bem, Margarida! Nem sempre gosto de ouvir humor na rádio de manhã, mas o seu exercício de estilo, dito tão naturalmente, fez-me soltar umas belas dumas gargalhadas. Bem haja por isso.

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M80


Nunca fui um grande fã de rádio. Ouço de manhã, quando vou no carro, e nada mais. Quando ligo o rádio quero ouvir música, mas habitualmente apanho o trânsito, notícias, anúncios, o jogo da mala, a bancada central ou aqueles programas matutinos com toda a gente bem-disposta a dizer piadas parvas logo de manhã. Há pouco tempo descobri a M80, rádio que quase só passa música dos anos 70, 80 e 90, e agora praticamente não ouço mais nada. Torna-se por vezes um exercício engraçado tentar descortinar através da névoa da memória quem cantava uma ou outra música que ouvia quando era adolescente com as hormonas aos saltos, como por exemplo o "I Was Made For Loving You Baby". Recomendo vivamente - é no 96,6.

A propósito de rádio, lembro-me de alguns programas que ainda assim me marcaram. O programa "De Que Cor É o Santo António", para mim, acabou por ser um mito que marcou a época em que estava a terminar o curso, em Coimbra; o radialista (é assim que se diz?) era o meu primo, o grande Elranys. O programa passava na RUC, Rádio da Universidade de Coimbra, e começava às 10 da manhã. Um mito porque só o consegui ouvir uma ou duas vezes, afinal esse horário coincidia mais ou menos com a hora a que me deitava... velhos tempos esses, em que o difícil era conseguir levantar-me a tempo de almoçar antes de jantar.

Também me lembro de outros programas que ouvia efectivamente. Para além do incontornável Oceano Pacífico, recheado de boa música, e do clássico Pão Com Manteiga, havia um outro, o Sexo No Ar, uma vez por semana, no máximo até às duas. O locutor principal era Carlos Cruz, a animar as noites de sexta-feira para sábado, da meia-noite às duas, com excelentes textos. Lembro-me da rubrica em que se dissertava sobre uma posição do Kama Sutra como se se tratasse de uma receita culinária, ou as histórias sobre o choque entre duas civilizações aparentemente antagónicas, uma regida por uma vulvocracia, enquanto a outra se tratava de uma falocracia. Ou ainda a história aflitiva da nave espacial que funcionava a energia sexual, e que andava à deriva porque ninguém conseguia parar a fêmea da raça clitoridiana, que fazia a nave andar...

Bom, acabei por me dispersar um pouco, queria era falar de rádios que passam música. A estação que eu mais ouvia, até há uns anos, era a Rádio Nostalgia. Aliás, houve uma altura em que estive para cortar com isso, porque num banco onde trabalhei (e onde passei muitas noites e fins-de-semana), só passavam essa rádio, que acabou por ser apelidada de Rádio Nevralgia, pelo enjoo...

Concluindo - sintonizem a M80, relembrem o Disco Sound, os Village People, os Boney M, os Cock Robin, os Kiss, a Gloria Gaynor e muitos outros.

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