Racismo social?

Sobre isto, no Bloguítica, também aqui já falei do "Alfarroba de Boliqueime", termo provavelmente mais depreciativo do que "professor de Boliqueime". Porque Cavaco, para mim, representa o Algarve da alfarroba, o Portugal de paróquia ou, como dizia O'Neill, o "País em diminutivo" onde "respeitinho é que é preciso".

Este é, essencialmente, o aspecto que menos me agrada em Cavaco: sobra-lhe em tecnocracia o que lhe falta em cultura geral. Tresanda à gravitas bafienta que faz de Portugal o que Portugal é. Não fora isto e Cavaco seria, sem nenhuma dúvida, o candidato em que não hesitaria em votar. Mas o homem é serôdio. E não é por ter nascido em Boliqueime. Disso, não tem culpa nenhuma. Mas esta acaba por ser uma boa metáfora, que se utiliza por facilidade de discurso. Racismo social ou distanciamento cultural? - Creio que mais o último. Seja. Porque não?

Por outro lado, Cavaco é herdeiro de Soares e ambos são culpados do triste estado deste País estatizante e tributário. Não me ocorrem aí extraordinárias diferenças. Do meu ponto de vista, que gosto de criatividade, inovação e futuro, de liberdades individuais e independência, vejo nestes dois candidatos aquilo que vi na universidade: mestres que falam ex catedra e que nos enjoam a cada palavra (claro que houve excepções). Na política, como no ensino, ficámo-nos pelas "reformas pombalinas". E continuamos entretidos, cantando e rindo. É com este "distanciamento cultural" (e, obviamente, geracional) que olho para as eleições presidenciais sem nenhum entusiasmo. Diria mesmo que com muito desencanto.

Fazendo a minha "declaração de interesse", aprecio a candidatura de Manuel Alegre pelo acto de insubmissão e independência que representa. Mas não creio que consiga votar nele, porque também ele encarna um projecto político em que não me revejo.

E estas são as únicas candidaturas que realmente contam.

O pior é ter que escolher, não é? Sobra sempre a professora de Évora...