quinta-feira, janeiro 26, 2006

Viva a Sociedade Civil

Em Portugal existe um respeito quase reverencial pela "sociedade civil". Desde uma etérea entidade a quem entregar a gestão da RTP-2 até uma nebulosa ideia de regresso à sociedade primordial, sem pecado original, a sociedade civil tudo acalenta.
Nestas Presidenciais o tema voltou à baila. A vitória de Manuel Alegre é glosada de uma forma mais simpática na medida em que foi apoiada pela tal "sociedade civil", sem recurso aos maléficos partidos, tradicionalmente sedentos de poder e verdadeiras agências de emprego.
Esta ideia é perigosa.
Os partidos são os agentes por excelência da democracia.
A democracia exercida directamente pela sociedade civil dá asneira da grossa.
Quando a sociedade civil se põe a fundar partidos, é o descalabro (apesar de enriquecer de forma sublime o anedotário nacional). Desde o PSN ao PH, passando pelo PND, é hilariante a ronda de cromos que nos vai passando à frente.
Perco a vontade de rir quando este fenómeno atinge proporções mais sombrias e pantanosas - Valentim Loureiro, Fátima Felgueiras e Isaltino Morais; especialmente os últimos 3.
Pode ter passado muito tempo, mas quero aqui deixar um desabafo:
A "sociedade civil", quando largada à solta, tende a votar estupidamente.
Valha-nos o exemplo das gentes de Amarante para continuar a acreditar no tão propalado bom-senso popular exercitado nas urnas, e pensar que o que sucedeu em Felgueiras e em Oeiras são as excepções.
Este pensamento deixa-nos mais tranquilos, sem dúvida. Mas não deixo de pensar no que leva pessoas normais a votar nesses indivíduos. Existe um arquétipo, já desde há 30 anos, que poderá ajudar a entender o que se passa: refiro-me ao batráquio que vive no Funchal. Será que a sociedade civil prefere políticos corruptos, ladrões, burgessos, mas que desenvolvam as suas terras (contra as leis, contra a ética, contra tudo e contra todos)?
Enfim, voltarei a este tema. Quero desde já deixar aqui uma nota adicional: desde há muito tempo que não temos tão bons políticos à frente dos dois maiores partidos.
Sócrates está a ser um bom primeiro-ministro (apesar dos demasiados erros cometidos, não tem medo de afrontar os interesses corporativos. aliás, também não tem alternativa...).
Marques Mendes tem demonstrado ter princípios sólidos, o que é novidade num líder de oposição.

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