domingo, janeiro 08, 2006

Expresso miserável

Aqui ao lado está a fotografia com que o Expresso entendeu ilustrar a sua manchete de hoje. O grande furo jornalístico, a merecer destaque na primeira págima, é "Soares reconhece que arrancou tarde".
Eu simplesmente considero isto um acto miserável, de pseudo-jornalismo. Baixaria completa. E porque não uma fotografiazinha de Cavaco a comer bolo-rei de boca escancarada? Afinal, seria tão mau jornalismo como esta amostra. Mas claro que não, o Expresso tem o seu candidato escolhido e não o esconde. Não considero isso condenável, julgo até que é saudável um jornal promover esse tipo de transparência. Mas daí a ridicularizar um outro candidato com uma má fotografia é que não me parece ser deontológico.
O grande handicap de Mário Soares é, sem dúvida, a sua idade. Partisse ele para estas eleições com menos 10 anos e seria um cenário completamente diferente!
Já a forma como alguns comentadores tentam denegrir Soares pela sua idade é perfeitamente indecente. É curioso notar que os sectores da sociedade que mais se atiçam contra a idade de Soares são os mesmos que elogiaram piedosamente o sacrifício de João Paulo II. Mesmo com as duas tentativas de assassinato que o debilitaram profundamente, na fase final da sua vida, mesmo com a doença de Parkinson que praticamente o impediu de comunicar, foi praticamente unânime o aplauso dos comentadores. Já Soares, que apesar de ter também uma provecta idade, não padece de qualquer doença grave (as gaffes não são uma doença, são uma característica dele há pelo menos 30 anos), é atacado por todos os lados. É justo, é coerente? Acha que sim?

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4 ComentÁrios:

Blogger Dever Devamos disse...

Oh Rantas estás a confundir as eleições. A cena do Bolo-Rei foi nas eleições com o Sampaio.

Como bem sabes, não morro de amores pelo Soares, nem agora nem há 10 anos. Não obstante, considero-o ainda uma pessoa bastante válida para muitas coisas, mesmo ao nível da sociedade civil. Não o considero contudo capaz para ser PR.

E digo-te mais, sou cavaquista, mas entendo que o próprio Cavaco não seria a pessoa ideal para PR. Ver-me-ia a votar por exemplo em alguém como Freitas do Amaral (apesar dos seus recentes desvarios). Mas houve alguém que não quis...

08 janeiro, 2006 19:53  
Blogger Alex disse...

Rantas, desculpa lá, a fotografia está fantástica e, na minha opinião, espelha a situação actual do candidato "Onde é que eu me meti ?..."
Saúdinha

08 janeiro, 2006 22:55  
Blogger manolo disse...

Se a opção de escolher um candidato é saudável (e concordo que sim) então onde está o "acto miserável" do pseudo-jornalismo? As imagens são muito expressivas, quando se quer transmitir uma mensagem. É bom jornalismo. E ficar chocado com isto é falta de "maturidade" democrática. É como dizer que o Bush ganhou as eleições porque o povo americano é idiota. E se tivesse ganho? E não vejo assim tantas críticas à idade de Soares. Vejo sim um desespero acusando a comunicação social, complôts e cabalas... ridiculo.

13 janeiro, 2006 18:31  
Blogger Rantas disse...

Escolher um é saudável.
Argumentar a favor de um e/ou contra o outro é também saudável.
Com argumentos concretos.

Utilizar fotografias menos felizes não me parece saudável. Fotografias ou "flashes" infelizes todos os candidatos têm - a cena do bolo-rei foi nas eleições de há 10 anos e ainda hoje é lembrada. Será que é demonstrativa de falta de maneiras do Cavaco? Não, absolutamente. Será que é um aspecto importante do perfil do candidato? Não, com certeza que não. E no entanto, 10 anos depois, é a imagem mais forte da campanha...
Ora isto é triste e não é de todo saudável.

Quando refiro que este tipo de jornalismo é "miserável", não é pelo desespero da derrota, nem como meio de acusação de cabalas. É apenas e só pela cultura do acessório, do soundbyte, do pequeno apontamento, que ensombrece, ou esconde totalmente, o conteúdo, a mensagem, aquilo que é importante.

Seria "giro" encontrar esta fotografia numa secção tipo "Gente". Vê-la na primeira página do Expresso é revelador do facto do jornalismo do "pequeno apontamento", da maldicência, do que é "giro", ter galgado as escadas e ter alcançado um lugar de destaque. O preocupante é que o jornalismo dito "de referência", sério, de substância, não ter encontrado o seu espaço alternativo.

É da globalização, da americanização, da pressão publicitária, é do que quiserem... é, objectivamente, uma perda de qualidade. E tenho pena por isso.

Quanto à idiotice dos americanos - ora bolas, Manolo. Esse foi apenas um dos factores. Não há-de ser por existirem mais factores que esse deixa de existir :D

13 janeiro, 2006 19:15  

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