Está na ordem do dia. Não há como ignorar a questão. Volto à discussão do novo aeroporto de Lisboa (e grande aeroporto internacional de Portugal). Abordei a questão variadíssimas vezes ao longo dos mais de dois anos de existência deste blogue e envolvi-me em trocas de argumentos com comentaristas e outros blogues. Ela está de volta, a idiOTA decisão.
Na verdadeira vertigem de estudos, argumentos técnicos e opiniões, parto de novo para a discussão munido com uma ideia assente, baseada num rudimentar conhecimento técnico e operacional (ainda assim, creio que superior ao da maioria das pessoas que têm emitido opinião): Lisboa (Portugal) precisa de um novo grande aeroporto internacional, que sirva como hub da TAP.
Por muitos remendos e acrescentos que se façam, a Portela está esgotada a curto prazo. Só quem não utiliza o actual aeroporto de Lisboa pode dizer que é possível continuar a tê-lo como principal aeroporto português. Não dá, não serve, esgotou.
A hipótese Portela mais um poderá servir para ganhar tempo. Se concentrarmos a operação das low cost no Montijo, por exemplo, ganham-se os meses (anos?) necessários para que se estudem aprofundadamente as possíveis alternativas à Ota. Mas também esta solução acabará por ser insuficiente no médio prazo. O aeroporto da Portela é um mau aeroporto, completamente desfasado da actual realidade operacional.
O governo diz que, das opções estudadas, a Ota é a que melhor serve. Os técnicos avnçam que, apesar dos graves problemas da localização, é possível encontrar soluções de engenharia para a maior parte dos inconvenientes apontados à Ota. Acredito nestas duas coisas.
O que faz espécie é que se tenha chegado à Ota a partir de um primeiro estudo ralizado em 1969. O País mudou, tudo está diferente, e sucessivos desmandos no ordenamento do território trataram de eliminar a maior parte das hipóteses de localização que então foram apontadas para o novo aeroporto. Sobraram Ota e Rio Frio. Esta última foi "chumbada" devido a graves e ponderosos impactos ambientais. Mas, de 1969 para cá, porque raio não chegaram a ser equacionadas outras possibilidades?
O campo de tiro de Alcochete, em que todos os terrenos pertencem ao Estado, por exemplo, não seria uma hipótese a encarar? E o Poceirão? Estes locais foram estudados como possíveis localizações?
A Ota fica longe de Lisboa. A Ota é uma má localização em termos de planeamento do território (a melhor, segundo as opiniões de especialistas na matéria que já li e ouvi, seria sempre na margem Sul do Tejo). A Ota apresenta custos de construção elevadíssimos quando comparados com outras hipóteses que exigem menor movimentação de terras, de compra de terrenos, de desvio de rios e ribeiras, cabos de alta tensão, condutas de água (e gás?), de construção de estacas que contrariem a natureza do terreno (lodos e leito de cheias)...
À Ota são apontadas limitações na futura possibilidade do aumento de capacidade. Aquela localização pode resolver o problema nos próximos 30 ou 40 anos. E depois disso? Exige-se aos governos, sobretudo quando tratam de investimentos na ordem dos 3 mil milhões de euros, que tenham visão de futuro. O governo de Sócrates não a está a ter. O espírtio é "resolvemos para já o problema, depois logo se vê". O princípio é mau. É disso, sobretudo, que a malta não gosta.
Em resumo: é real a necessidade de um novo aeroporto. Deve-se avançar para a sua construção o mais rapidamente possível. Mas a decisão da localização de um investimento brutal não pode estar refém de um estudo inicial realizado em 1969. Ninguém disse, porque não pode dizer, que não existem alternativas melhores, quer do ponto de vista dos custos, quer do ordenamento do território, quer técnico e aeronáutico, quer mesmo ambiental, à Ota, O que este governo diz é que não há tempo para estudar melhor o assunto. Este argumento eu não aceito. Se começarem a estudar já possibilidades como o campo de tiro de Alcochete, Poceirão ou mesmo Montijo, estão a ganhar tempo ao tempo que vos falta para emendar a mão relativamente a uma decisão obstinada. Sócrates não pode ser autista nesta matéria.
Uma nota final: Mário Lino defendeu a Ota utilizando, entre outros, o extraordinário argumento de que era "um compromisso pessoal". Mas com quem é que ele se comprometeu, raios?
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