segunda-feira, março 26, 2007

O Maior Português?

Não cheguei a ver nenhuma sessão do concurso "Os Grandes Portugues", da RTP. Mesmo assim, estou convencido que o programa teve mais qualidades do que defeitos.
Os defeitos
A publicidade que vi na rua era apalermada - "bom rei ou mau filho", e coisas assim do género - e serviu como uma antevisão de um programa de televisão rasca e básico, servido e deglutido como fast food por um público pouco dado a subtilezas, apenas preocupado em distinguir os bons dos maus. Essa distinção realizou-se à luz dos critérios ditados por um povo cujo alimento cultural principal consiste em novelas parvas com enredos simples.
O principal defeito do programa era o seu objectivo proclamado - nomear o Melhor Português de Todos os Tempos. Isto é uma parvoíce pegada, claro está. Camões foi melhor do que Carlos Lopes? A escrever sim. A correr, nem por isso.
Diversas considerações sobre o objectivo do programa - nomeadamente os seus possíveis aproveitamentos políticos - fizeram com que o programa fosse levado demasiado a sério para aquilo que era - um mero programa de entretenimento, porra!
As qualidades
O programa conseguiu colocar os portugueses a discutir a sua História, as suas figuras e os seus símbolos. OK, fê-lo de forma simplista, mas fê-lo. Isso, meus senhores, é verdadeiramente um Serviço Público!
Os resultados
Os resultados do programa constituem, acima de tudo, uma enorme surpresa. Descontando as votações organizadas que terão sido provenientes de forças políticas habitualmente extremosas com a nossa História, elas não serão justificação para tudo. A votação em Salazar foi esmagadora - 44% dos votos foram para o velho ditador! Não acredito que tudo isso tenha vindo das organizações de extrema direita. Este resultado traduz um grande mal-estar da população portuguesa, derivado da péssima imagem que os políticos possuem. E claro, de uma enorme falta de cultura democrática. O segundo classificado, Álvaro Cunhal, serve de contraponto à votação em Salazar, e representa a mesmíssima coisa - votos dirigidos por uma organização política, complementados por um saudosismo bacoco e infantil.
O terceiro, Aristides de Sousa Mendes, foi sem dúvida um Grande Português. Aparecer em 3º lugar é sintomático. Apenas significa que quem votou nele queria acertar no "bonzinho", como se estivesse num episódio da Floribela.
Conclusões
O programa foi excelente ao propor discutir a nossa História e ao estender essa discussão a pessoas tipicamente pouco inclinadas a isso. Para garantir audiências, baixou um pouco o nível de qualidade, mas esse facto não lhe retira o mérito. Por outro lado, os seus resultados são um sinal de alerta muito sério em que os nossos políticos deveriam meditar. Quantas vezes se tem ouvido por aí que "no tempo dele, não houve sequer um caso de corrupção no governo"? E por acaso não será verdade?

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2 ComentÁrios:

Blogger jpt disse...

uma boa analise. e nao esquecamos que no tempo de salazar nao havia esses blogs a mostrarem actrizes nuas e desenhos eroticos sado-masoquistas. eram outros tempos e com coisas boas, a decencia acima de tudo

02 abril, 2007 15:12  
Blogger Rantas disse...

Exactamente, caro JPT.
No tempo de Salazar, as actividades eróticas sado-maso eram encobertas (Ballet Rose...), não eram expostas publicamente como sucede em alguns blogs de má nota :-)

04 abril, 2007 23:46  

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