Saber se Sócrates fez alguma coisa para beneficiar da obtenção de uma licenciatura "simplificada" não é uma questão menor. É uma questão de saber do carácter de quem nos governa.
Algumas das suspeitas levantadas nas últimas semanas foram suficientemente pertinentes para merecer explicações de Sócrates.
Na entrevista, o primeiro ministro fez por justificar a presunção de inocência. Sócrates escolheu, para terminar a licenciatura, uma universidade de merda. Esse é o seu "pecado capital", que muitos procuram explorar e não perdoar.
Muitos dos que põem agora em causa o percurso académico do primeiro ministro obtiveram uma licenciatura que beneficiou de passagens administrativas. Vamos questionar todas essas licenciaturas agora, reabrir e investigar todos os dossiers, ou percebemos que foi um "ar do tempo" em que não há necessariamente culpados?
José Alberto Carvalho e Maria Flor Pedroso não aguentaram a pressão. Estiveram, ao longo da entrevista, desconfortáveis, tensos, crispados. Sobre a licenciatura de Sócrates, não exploraram alguns dos aspectos mais nebulosos.
A saber: uma das cadeiras não foi dada pelo regente, mas sim directamente pelo reitor. Porquê?
As outras quatro cadeiras foram todas dadas por um mesmo professor. É normal, faz sentido?
Alguns dos colegas de turma de Sócrates disseram que não se lembram de o ver nas aulas nem nos exames.
Estas questões ou não surgiram, ou esgotaram-se em explicações insuficientes.
Sócrates diz que se vê na incrível posição de ter de refutar acusações que ninguém é capaz de provar. Mas vamos lá a ver: são conhecidos e, infelizmente, recorrentes, os casos de alegados médicos ou advogados, por exemplo, que exercem a profissão até ao dia em que alguém põe em causa as suas habilitações académicas. Cabe-lhes fazer prova de que possuem o "canudo", não é? Porque há-de o primeiro ministro ser diferente?
AInda assim, penso que Sócrates fez ontem por merecer a presunção de inocência. Obteve a licenciatura numa universidade duvidosa, o que certamente lhe terá dado jeito, e é por isso detentor de certificados e diplomas cuja autenticidade ainda ninguém pôs em causa. Ou questionamos todas as licenciaturas até hoje concedidadas pela Universidade Independente e quejandas, ou esta questão se arrasta penosamente, com efeitos nefastos para o País.
Após a entrevista de ontem, quem tiver provas de que Sócrates obteve favores, avance. Quem não tiver, cale-se. A suspeição deve ceder à presunção de inocência. Sócrates sai, necessariamente, fragilizado, mas espero que recupere, porque isto é menos mau com ele do que sem ele. As alternativas são sinistras.
A declaração de Marques Mendes foi patética. Diria o que disse, independentemente das explicações de Sócrates. São assim, os abutres.
PS: É extraordinário este país, em que um doutor ou engenheiro usado como nome próprio vale mais respeito do que qualquer demonstração de competência. Rais'ta parta esta bimbalhice.
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