sexta-feira, outubro 13, 2006

"Taxa moderadora de internamento"


Taxa quê?????
O internamento, respectiva duração e "baixa" clínica não são uma escolha pessoal, resultam de decisões médicas. Ninguém é internado num hospital porque quer. Ninguém fica internado por escolha própria.
A "Taxa moderadora de internamento" modera o quê? Os médicos?
"Não será superior a 5 euros por dia", disse o ministro da saúde, Correia de Campos, "porque as pessoas gastam 3,20€ num maço de tabaco, vão ao cinema" e...
Confesso que, a partir daqui, fiquei algo desnorteado. Nem vou arranjar contra-argumentos para tão cretina linha de raciocínio. Ela implode-se a si própria.
Geração "Paga e cala"
Em Portugal paga-se cada vez mais ao Estado, para dele receber cada vez menos.
Um cidadão português da classe média, entre os vinte-e-tal e os quarenta, está cada vez mais fodido.
Creche para os filhos? - Paga
Cuidados de saúde? - Paga. Paga ao Estado e, para teres a certeza de que és bem tratado, paga também um seguro privado. Paga ao dentista. Paga as consultas aos médicos da especialidade porque, no teu centro de saúde, só daqui a quatro, cinco meses.
Segurança Social? - Paga. Não sabemos se vais receber, quando fores velho, alguma coisa, mas cala-te. Paga.
Andar de carro? - Paga. IA, IMC, IPP, portagens...
Segurança rápida e eficaz? - Paga a polícia que nunca aparece a horas e que não oferece segurança nenhuma, a menos que contrates "serviços remunerados". Paga.
Acesso à justiça e aos tribunais? - Paga. Paga ao advogado, paga aos tribunais as escandalosas "taxas de justiça", paga.
Comprar casa? - Paga. Paga o IMT, o IMI, o imposto de selo, as escrituras e registos... paga.
Fumar? - Paga, os cigarros mais os impostos.
Beber?- Paga, o copinho mais os impostos.
Consumir? - Paga. Os bens que consomes, mais os impostos.
Pagamos um preço exorbitante por serviços ineficientes, justiça que não funciona, polícia que mal se vê, pensões vergonhosas para um país europeu, burocracias, desmandos autárquicos, rotundas, estádios de futebol, mercedes-benz pretos, obras públicas que duplicam o orçamento e os prazos, ordenados chorudos de gestores e assessores da coisa pública, estudos, pareceres e comissões, legiões de funcionários ociosos, "direitos adquiridos"...
O estado esbanja e desperdiça o dinheiro que não temos.
Pagamos muito e pouco recebemos.
Que Portugal estamos a contruir? Esta é, também, uma questão geracional. Os que entraram no mercado de trabalho há 15 anos ou menos estão a sustentar uma estrutura que nada lhes dá.
A mensagem continua a ser: paga, paga, paga, paga.
Mas paga o quê, caralho? Chega!

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2 ComentÁrios:

Blogger Alex disse...

Discordo do post.
É fácil dizer que pagamos impostos portanto temos direito aos serviços. A verdade é que tudo está em mudança. E a triste verdade é que os portugueses não geram receita suficiente para pagar a despesa. É óbvio, reduza-se a despesa. Não é o que nos dizem há anos?! A verdade é que não é fácil. E quando surje qualquer medida nesse sentido, aqui del rei que estão a mexer nos meus direitos!
Eu adorava ter um Mercedes classe E! Mas não tenho dinheiro para isso. Portugal não tem riqueza para oferecer aos cidadãos um serviço de saúde universal, gratuita e sem limites. A economia tem que crescer, só assim a receita cresce e a despesa pode subir.
A saúde, desde há décadas tem sido um sorvedouro de dinheiros públicos, não se cumpre um orçamento há 20 anos, as derrapagens são brutais e a desorçamentação habitual.
E porque é que os custos sobem tanto? Duas ordens de razões: a primeira evidente, o aumento da esperança de vida. Outra, os custos de alta tecnologia dos equipamentos de saúde. Há 20 anos o mesmo exame fazia-se com um custo muito menor, pois hoje oa aparelhos são muito mais evoluídos e portanto com muito mais custos de amortização (aqui põe-se a questão da gestão da utilização dos equipamentos), mas a questão é esta, os custos com saúde crescem inexoravelmente. Assim a solução qual é? Pode-se alterar o Sistema. Pode-se aumentar os impostos de modo a cobrir os custos. Vou pela primeira. Esta medida, mexe um bocadinho com o sistema (quanto a mim nem é suficiente). Mas é uma medida equilibrada: apenas os que podem pagar (ficando cerca de metade da população de fora) vão pagar 5 € por dia no máximo por 14 dias...70 € por um internamento... Sabes quanto custa uma diária num hospital? Sem medicamentos, bloco operatório, anestesista, enfermagem e sem honorários? Só o quarto, cerca de 250 a 300 € por dia! Acho que é razoável. É tanto barulho por tão pouco. Faz-me lembrar as propinas... "Não pagamos" gritavam os estudantes nas suas excursões a Lisboa...
Saúdinha

15 outubro, 2006 16:47  
Blogger El Ranys disse...

Caro Alex,
A posta está dividida em duas partes. A parte A e a parte B.
A parte A fala da chamada "Taxa moderadora" dos internamentos, e nela critico, sobretudo, a linha de raciocínio de Correia de Campos, ao introduzir como "atenuante" ao pagamento de 5 euros por dia de internamento o preço de um maço de tabaco ou de uma ida ao cinema. É, simplesmente, lamentável e inadmissível tão reles demagogia nalguém com tão grandes responsabilidades. Diria mesmo que é desonesto.

Na parte B, entro por outro rumo, para dizer o seguinte: os portugueses da classe média pagam cada vez mais por cada vez menos. As políticas de redistribuição da riqueza não se fazem através da cobrança de taxas. Para isso se criaram as políticas fiscais.
Como não espero grande coisa do estado, e dele não recebo nada, na minha perspectiva de contribuinte líquido encaro as minhas contribuições como acto solidário.
Entendo, no entanto, que o dinheiro que ganho com o meu trabalho e que entrego ao Estado (mais de metade dos meus rendimentos anuais) é mal gasto.
Eu quero é que o Estado ataque onde tem de atacar para diminuir a despesa, e não criar receita adicional onde o seu papel é essencial: saúde, educação, segurança pública, justiça e segurança social. Quero que o Estado dê a quem precisa. Quero que o Estado não se aproprie de tanta riqueza gerada pelo trabalho dos cidadãos para desperdiçar em coisas a que não é chamado.
Doa a quem doer, a prioridade deve ser atacar o desperdício, e não criar mais fontes de receita. É uma questão de prioridades: este governo quer que a malta pague mais. Eu quero que o governo gaste menos e melhor. Estou farto de pagar desmandos. O dinheiro que ganho faz-me muta falta, e irrita-me estar a entregá-lo a quem não o sabe gerir.
Com já disse, do Estado não espero nada e gostava que ele se metesse menos na minha vida.

16 outubro, 2006 13:04  

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