Sol na eira e chuva no nabal
«Se Portugal vier a participar numa força multinacional no Líbano, não será por alguma ideia, atitude ou opinião própria que o nosso governo tenha sobre o assunto, mas apenas por um seguidismo geoestratégico do tipo "Maria vai com as outras". »
Vicente Jorge Silva, DN, 2 de Agosto
Um dos maiores problemas da Europa é a forma como a Defesa (não) é tratada. A protecção americana é confortável, o dinheiro que se gastaria faz-nos falta para outras coisas (a Agricultura, essencialmente), e as coisas até se vão compondo, com mais mortos, menos mortos.
Periodicamente surgem crises - Bósnia, Kosovo, etc - em que se torna demasiado óbvia a falta de condições políticas e a falta de vontade de intervir. Apenas ingleses e, em menor grau, franceses, têm condições de avançar, e quando o fazem, fazem-no atendendo aos seus interesses próprios e não a uma posição concertada da Europa.
Ou seja, a Europa não tem uma política própria porque não tem condições de a ter. Nem condições operacionais (investimento nas FA) nem políticas (vontade).
Naturalmente, as condições operacionais só surgirão após terem sido tomadas as opções políticas. A dificuldade de se alcançar um consenso político é o principal obstáculo para a inexistência de uma política comum. E essa dificuldade é corporizada em posições como a citada lá em cima.
De facto, se de cada vez que a Europa pretenda intervir - e estas intervenções habitualmente caracterizam-se por virem acompanhadas por uma grande urgência e necessidade de rapidez - cada um dos 25 países quiser expressar uma «ideia, atitude ou opinião própria», estamos liquidados! Isso é ingerível!
Das duas, uma - ou se pretende que a Europa tenha uma palavra a dizer, sendo que para isso necessita de investir na Defesa e de recolher alguns restos de soberania dos seus países membros, ou então abandona-se de vez essa ideia, de forma a que cada país possa reservar-se o direito de ter uma «ideia, atitude ou opinião própria». Nesta segunda opção, que é tão legítima como a primeira, não se pode é criticar em simultâneo a inoperância militar da Europa.
Querer as duas coisas em simultâneo, é querer "sol na eira e chuva no nabal". Seria óptimo, mas é simplesmente impossível.
Etiquetas: Coisas sérias, Jornalismo, Políticas, Rantas
4 ComentÁrios:
Mas a Europa afinal quer o sol na eira e a chuva no nabal: quer que os gringos tratem dos berbicachos e quer manifestar-se constantemente contra eles.
Seria óptimo, mas é simplesmente impossível :-(
Já te doi o pé? Não acredito que alguma vez haja esse investimento na defesa. Os governos conseguiram arranjar os argumentos para acabar com eles e não vão voltar a investir a menos que aconteça uma improvável guerra dentro de um dos "big boss" da Europa. (Alemanha, Inglaterra, França...) Até porque isso não interessa aos EUA.
Vai ficar tudo na mesma (é o que este pessoal é perito em fazer)
O que me assusta é a guerra já começou, há 5 anos...
O facto de ser uma guerra com um carácter pouco convencional (bombas em aviões, comboios, metros e autocarros) não lhe retira argumentos para investir na defesa. Antes pelo contrário!
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