terça-feira, março 07, 2006

Olhá crise fresquinha II...

Depois da banca, eis mais duas empresas a apresentarem resultados que constituem máximos históricos: PT e EDP, que lucraram 654 e 1.071 milhões de euros em 2005, respectivamente. Isto enquanto temos das tarifas eléctricas, custos das chamadas telefónicas, ligações de internet e "pacotes" de TV Cabo dos mais caros da Europa (já para não falar da "insultuosa" assinatura mensal da PT, que ainda subsiste).
Mais uma vez esclareço que nada tenho contra os lucros das empresas, bem pelo contrário, mas...crise? Qual crise?

8 ComentÁrios:

Blogger Dever Devamos disse...

tens alguma razão, mas os resultados da edp foram influenciados pelas mais valias da venda da galp (400 m.e.) e ganhos cambiais com o brasil; quanto à pt, também teve ganhos cambiais e extraordinários; além disso terão eventualmente sido "dourados" por causa da opa da sonae

07 março, 2006 21:43  
Blogger Rantas disse...

Não me revejo nestes comentários. Já aqui há tempos, quando foram divulgados os resultados do Millennium bcp, apareci a defender aquilo que me parece ser muito positivo: a rendibilidade de empresas portuguesas, principalmente de empresas portuguesas fortemente internacionalizadas (ou seja, a implantar por aí uma imagem positiva, profissional e eficiente do nosso país).

Preferias o quê, Ranys? Que tivessem prejuízos? Ao menos são bem geridas. Os argumentos do monopólio e da falta de concorrência já não encaixam. Devo dizer-te que eu não pago nenhuma assinatura mensal à PT. Não tenho telefone fixo em casa. E se tivesse, tinha também um outro remédio para não me sentir insultado: trabalhava com a concorrente da PT...

Para mim, os lucros são uma boa notícia, não má. Podem acusar-me de estar vendido ao grande capital. Mas nem isso: Esta é mesmo a minha opinião!

07 março, 2006 23:37  
Blogger El Ranys disse...

Caro Dever, é verdade o que dizes e não deve ser ignorado. No entanto, não altera o essencial da minha opinião.

Caro Rantas:

Neste post, deixei um link para o post onde comentei os resultados "recorde" do Millennium.
Nesse post, tu disseste a mesma coisa que dizes agora, e eu respondi-te da seguinte forma: quantos trabalhadores, neste período, foram despedidos das duas empresas (e estão agora a receber subsídio de desemprego)? Quanto pagaram estas empresas em sede de IRC? Que benefícios fiscais obtiveram? Que aumentos tiveram os seus trabalhadores?

A questão é esta: os portugueses (bom, a sua maioria) estão a perder poder de compra à quatro ou cinco anos seguidos. Pagamos, pelas "commodities" e outros bens e serviços básicos, tanto ou mais que os nossos parceiros europeus. Mas ganhamos metade. Nem todos, é certo: os administradores destas empresas ganham tanto ou mais que os congéneres da Europa.
Os portugueses, 0 "povo", é que ganham cada vez menos. Ao contrário das suas gloriosas empresas, que vão registando máximos atrás de máximos. Eu entendo que os lucros são uma boa notícia e que devem ser saudados. Mas também que deviam ser repartidos com quem contribui para que sejam alcançados. Ou não?

É para mim escandaloso que a maior parte dos trabalhadores por conta de outrém não sejam aumentados há 4 ou 5 anos, à pala da "crise", mas que essa crise só seja mesmo sentida por eles. Para as empresas, pelos vistos, não há crise nenhuma. Pelo contrário.

O problema não é as empresas ganharem cada vez mais, mas sim que quem trabalha nas empresas não sinta, em nada, esse aumento de lucros reflectido nas suas vidas.

À pala da crise, houve inúmeros despedimentos, "downsizing's",
"reengenharias" e outras coisas em economês, que tu dominas melhor do que eu. Um batalhão de trabalhadores que ainda podiam estar no activo vivem agora à custa da segurança social. Mas, aparentemente, não havia crise nenhuma. Era só um argumento.

O que eu queria mesmo, Rantas, era que vivessemos todos melhor. Todos, e não só as "empresas"...
Se não for para isso, "what's the point"?

08 março, 2006 00:39  
Blogger Dever Devamos disse...

O que se está a debater são dois pontos de vista opostos.

O primeiro, que eu defendo e que está mais ligado a políticas económicas de direita, entende que devem ser dadas as condições (não num sentido lato) para que as empresas possam desenvolver a sua actividade (o motor do crescimento são as empresas); são estas que trazem crescimento (competitivo) e com o crescimento novos empregos. Os despedimentos, por agora, são um mal necessário e que tem a ver com a correcção de excessos que já vinham de trás. E as restricções salariais acabam por beneficiar a política de controlo da inflação das entidades monetárias (o que no longo prazo tende a ser positivo).

O outro ponto de vista, o da protecção laboral a todo o custo (o motor do crescimento são os trabalhadores), mantendo desta forma uma competitividade artificial que funciona num mercado interno, mas que num mercado de contexto globalizado coloca-nos perante problemas de competitividade.

Não nos esqueçamos que são também estas empresas que contribuem com o grosso do IRC, dado que muitas outras nem sequer pagam impostos.

08 março, 2006 09:15  
Blogger PSeven disse...

O que se está a debater são mesmo dois pontos de vista opostos. Eu também acho que os lucros, em si, são boa notícia. O que já não é boa notícia é que se continue, indefinidamente, com a desculpa que é necessário dar condições às empresas, a aumentar o desemprego e a baixar o poder de compra de (quase) toda a gente. Assim, qual é a vantagem de ter uma economia em crescimento? Ficamos com empresas ricas e uma população na miséria? Levando estes argumentos ao seu extremo, não será que a economia mais competitiva seria a baseada na escravatura?

Em vez de uma economia a servir a população, estamos a ter a população a servir a “economia”.

08 março, 2006 11:50  
Blogger El Ranys disse...

Caro Dever,

Não tenho nenhuma vocação de sindicalista nem concordo com a maior parte das práticas sindicais em Portugal, que defendem não o direito ao trabalho mas a "estabilidade no emprego" - ainda hoje vi um cartaz, ali para os lados do aeroporto, dos sindicatos da função pública, onde a frase era mesmo esta "Pela estabilidade no emprego".

Não me revejo, de todo, nesse clássico argumentário, pelo que encaminhares o meu ponto de vista para uma visão de "protecção laboral a todo o custo", parece-me redutor.
Inclino-me mais, como já deves ter percebido, para a ideia que o PSeven aqui expressa e que sintetiza muito bem a "lógica" perversa da "coisa".
repentindo-me já quase exausto, pelo que peço que, desta vez, fixem a minha posição, os lucros das empresas são boa notícia. As empresas são o motor da economia. Mas qual é o interesse de empresas muito prósperas, se nada acrescentam, em riqueza, à população em geral? Que benefícios isso traz à sociedade? Acham (o Dever e o Rantas) que é aceitável que, num ano em que as empresas obtiveram resultados recorde, não tenham aumentado os seus funcionários, tenham despedido batalhões de pessoas (que passaram a viver à custa da Segurança Social, pagos por todos nós), e que mantenham situações de quase-monopólio, em que tarifas de serviços tão essenciais como a electricidade e telecomunicações são dos mais caros da Europa?
Acham normal que, em Portugal, paguemos por um "cabaz básico" mais do que pagam alemães, franceses ou espanhóis, quando estes recebem, no mínimo, o dobro daquilo que nós recebemos? Acham normal que estas gloriosas práticas empresariais estejam a conduzir o poder de compra dos portugueses à cauda da Europa?
Será porque, afinal, somos todos incompetentes? Ou será que incompetentes são, na realidade, os nossos empresários e políticos, que fazem perpeturar um sistema de baixos salários que nos faz viver pior e, por outro lado, em nada nos torna competitivos?



De facto, a "crise" tem sido pretexto para muita selvajaria nas empresas. Mas, insisto na "punch line", que crise?

08 março, 2006 13:50  
Blogger PSeven disse...

Só uma nota.

El ranys: por acaso, tinha acabado de pôr um post sobre este tema no Con(tro)versas. Só depois é que li o seu. Se me tivesse baseado nele, não teria qualquer problema em citá-lo e pôr um link para aqui.

um abraço

08 março, 2006 14:44  
Blogger El Ranys disse...

Tudo bem, PSeven.
Não tenho nenhuma pretensão de originalidade no que escrevo. Provavelmente (ainda que o desconheça), antes de mim já outros bloggers teriam falado sobre o assunto.
E, felizmente, creio que o "vigilante de plágios" da blogsfera, o Luís Raínha, não lê este blog ou o Con(tro)versas.
Sobretudo registo que estamos de acordo nesta matéria. Talvez ainda nos acusem de "perigosos comunistas" ;D
Abraço

08 março, 2006 14:57  

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