sexta-feira, março 03, 2006

Topete

Senhor ministro, tem sido alvo de críticas por ter omitido, no comunicado do MNE a propósito das caricaturas de Maomé, uma condenação à violência das reacções islâmicas. Continua a considerar que não errou?
- Senhor jornalista, eu fui o delfim do senhor Professor Marcello Caetano, sou professor de Direito Administrativo, fundei o CDS, fui candidato, pela AD, a Presidente da República - inclusivamente, lancei nessa campanha uma moda muita engraçada de sobretudos verdes e chapéus "palhinhas" - escrevi livros sobre Afonso Henriques e peças de teatro, fui Presidente da Assembleia Geral da ONU, derivei à esquerda, já chamei nomes a Bush e agora sou ministro. Como poderia eu errar? Acho que isso é topete do senhor jornalista.
Ignora, então, as críticas que lhe têm sido feitas?
- Críticas? Isso é tudo estultícia de uns quantos. Como se atrevem a criticar-me? Tenho hombridade e pundonor. Ainda o senhor jornalista andava de cueiros e já eu tinha hombridade e pundonor. Como ousa questionar-me nesses termos? Que vitupério, que infâmia!
Mas, em democracia, é normal criticar e questionar...
- Fala-me o senhor escriba em Democracia? Que falácia. Democrata sou eu, que sei o que é bom para os portugueses e para Portugal. Que desplante. Que atrevimento. Que aleivosia. Sou um homem que sempre pautou a sua actuação por um elevado denodo e sentido das responsabilidades. Cristo e a Virgem Maria são minhas testemunhas. O resto é licenciosidade.
Continua, portanto, a entender que as reacções islamitas são compreensíveis?
- Claro que são compreensíveis, mas também já admiti que são criticáveis. Até assinámos uma declaração da União Europeia e eu próprio enviei uma epístola ao governo da Dinamarca a manifestar a minha solidariedade. Mas não vamos em embustes. Portugal, como sabe, está eivado de perigosos radicais que pretendem, prima facies, lançar-se em novas cruzadas contra os infiéis. Para consumo interno, o fundamental era dizer que respeitinho é que é preciso. O povo português não percebe nada disto, mas eu sou um grande pedagogo. Estou até a pensar lançar-me na empresa de um programa de televisão, ao serão, em que explico umas coisas aos portugueses.
Pensa que é apoiado, nesta matéria, pelo Primeiro Ministro e pelo PS?
- O senhor cronista é maroto, está a ser licencioso... um verdadeiro energúmeno. Como poderia eu, que fui delfim do professor Marcello Caetano, professor de Direito Administrativo, fundador do CDS, candidato a Presidente da República pela AD, autor de livros e peças de teatro, presidente da AG da ONU, crítico de Bush, que sou ministro... dizia, como poderia eu não ser apoiado pelo PM e pelo PS nesta matéria? Os meus camaradas estão comigo, que não sou de tergiversar... Eu disse camaradas? Faça favor de suprimir...

4 ComentÁrios:

Blogger Pedro Correia disse...

Gostei da entrevista. Venham mais!

04 março, 2006 11:02  
Blogger Rantas disse...

Esta questão sobre o Freitas arrasta-se há demasiado tempo.
O homem foi infeliz na declaração que fez. Foi táctico, foi descuidado, foi interesseiro, pragmático, o que seja. OK, acontece, há dias bons e dias maus. Será que justifica o Telminho Correia colocar em causa a vida e a cultura democrática de Freitas? É preciso ter topete...

05 março, 2006 00:33  
Blogger El Ranys disse...

Justifica, justifica.
Freitas cometeu um erro político e, em política, os erros pagam-se.
E o que é isso de uma questão "arrastar-se há demasiado tempo"?
Qual é o tempo para uma questão?
Não quero viver de acordo com ritmos mediáticos. Suponho que também tu não queres. Então, qual é esse tempo? A questão ainda não está resolvida, Freitas foi à AR e não fez mea culpa. É vaidoso, arrogante e hipócrita. Na minha opinião, envergonhou os portugueses (parte deles, pelo menos) e a questão só estará resolvida quando ele deixar de ser MNE.

05 março, 2006 02:38  
Blogger Rantas disse...

Concordo contigo quando dizes que ele errou. Falhou e deveria ter reconhecido isso.
Sinceramente, não me parece que se justifique a sua demissão de MNE.

A minha questão tem a ver com a forma estúpida como o Telmo Correia, a partir desse incidente, colocou em causa uma série de coisas sobre Freitas em que, numa análise cuidadosa, Freitas lhe ganha por quinze-a-zero...

05 março, 2006 16:01  

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