sexta-feira, setembro 22, 2006

Morangos, Floribella, Jura?


Assisti ontem, na RTP1, ao primeiro episódio da mini-série "Timor: a ferro e fogo", uma co-produção australiana e canadiana que dá melhor pelo nome de "Answered by fire". Hoje, quando forem 23h00, é transmitida no canal 1 a segunda e última parte.
Ver a série fez-me recordar aqueles dias de 1999, em que me revoltei contra a crueldade e estupidez humana. Participei em vigílias junto aos escritórios da ONU e à embaixada americana em Lisboa. Embarquei num comboio especial rumo a Madrid, onde protestei pacificamente frente à embaixada da Indonésia.
Não chorei, mas estive perto, perante as brutais imagens que todos os dias nos entravam em casa, em que milícias apoiadas por Jakarta chacinavam timorenses indefesos, com a cumplicidade e ajuda do exército indonésio.
Quis protestar contra a passividade com que os EUA, a ONU e o mundo em geral pareciam olhar para a insanidade que destruía um país quase nos antípodas, mas tão próximo do meu. Como eu, milhões de portugueses indignaram-se e foram solidários. Foi uma moda? Talvez, mas que todas as modas fossem assim. De qualquer modo, creio que, para a maioria, a perplexidade, consternação e o querer fazer o pouco que estava ao alcance de cada um foi genuíno.
Futebol aparte, as manifestações de solidariedade com Timor, o grito de revolta que todos fizemos ouvir ao mundo, foram uma das poucas ocasiões em que o povo português verdadeiramente se mobilizou por uma causa.
Ontem, ao ver a série "Answered by fire", uma co-produção entre a Austrália e o Canadá (sei que já o disse, mas quero que fique bem claro) bem feita e que vale a pena ser vista, lembrei-me disto tudo.
E pensei nos directores de programação dos nossos canais de televisão ou nos nossos produtores de cinema, que preferem lançar projectos bovinos como os Morangos, a Floribella ou o Jura.
Não podia, não devia esta temática, que agora nos aparece pela mão de australianos e canadianos, ter sido objecto de uma produção portuguesa, exportada depois para outros países?
Já agora: durante o primeiro episódio, não se falou uma única vez de Portugal. Da língua portuguesa, só por vezes foram perceptíveis as palavras que o tetum assimilou.
Ainda que só na realidade ficcionada e televisionada, merecíamos melhor, não?
Mas, mais importante que tudo isto, são os timorenses, que mesmo em independência, tardam em encontrar a estabilidade social e política que merecem. Nunca deixem de acreditar num futuro melhor. Viva (vivam) Timor em liberdade.

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3 ComentÁrios:

Blogger Alex disse...

Bom post. Tenho pena de não ter visto a série. Timor foi de facto uma espécie de catarse nacional, onde veio ao cima o melhor da fraternidade humana.
Julgo que o processo da independência de Timor foi um exemplo único a nível mundial aonde o sentimento de Justiça venceu tudo e todos.
E nesse processo, Portugal só pode ficar orgulhoso do seu papel (ao contrário da fuga indigna que tivemos em 1975). E acho que já tivemos o nosso papel.
Também concordo totalmente com a tua opinião no que respeita à nossa televisão. É repugnante, o enfartamento que nos dão. E o pior é ver a totalidade das crianças deste país enfeitiçada pelos Morangos e pela Floribella. Parece-me que neste sector, a televisão, devemos manter o canal público. Não se pode deixar apenas ao mercado. Concordam?
Saúdinha

23 setembro, 2006 00:25  
Blogger Rantas disse...

Alex,

Estás a passar por uma boa catarse? Estes 2 pontinhos perdidos pelo Benfica souberam-me a ginjas!

23 setembro, 2006 00:34  
Blogger Alex disse...

Epá, isso não é aqui!

23 setembro, 2006 01:48  

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