O pequeno génio do Mal
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Há uma personagem incontornável nesta história: uma senhora de 70 anos que acompanha o pequeno gnomo na sua (pequena, porém profícua) carreira criminosa. Vamos chamar-lhe Sissi (nome inventado) para facilidade de identificação.
Na quinta-feira da semana passada cheguei a casa em boa hora - exactamente a tempo de ver o pequeno terrorista cometendo dois actos criminosos, um a seguir ao outro. Inicialmente, no que mais tarde se revelou ser não mais do que uma manobra de diversão, mandou 3 almofadas de sofá e uma manta para o chão da sala, após o que, numa corrida sinuosa pelo corredor e aproveitando-se do facto de eu reagir com a celeridade do Polga num dia não (ou seja, não reagir), almejou alcançar o seu quarto e pulverizá-lo com pó de talco (pela 3ª vez nessa semana).
Tive de tomar medidas disciplinares: "Já de castigo!", gritei.
O castigo não terá durado mais de 5 minutos. Por meio de promessas lancinantes choradas com o coração nas mãos (promessas essas que depois serão esquecidas, qual pacto Germano-Soviético de 1939 ignorado por um outro famoso ditador), o pequeno hobbit consegue enganar mais uma vez o seu progenitor (este desgraçado que aqui escreve, convertido em não mais de um repositor de material estragado lá de casa).
Revoltei-me com mais esta cedência a que fui sujeito (Chamberlain em Munique entregando a Checoslováquia numa bandeja, em 1938?) e decidi tomar uma opção de força: "Agora vais arrumar as 3 almofadas!". A reacção do pequeno gnomo foi a esperada: "Sissi!".
"Porra, que a cúmplice dele ainda cá está em casa!", lembrei-me eu. "E agora, o que é que eu faço? Bom, sigo em frente com esta abordagem, para ela aprender como se deve actuar com ele e não o deixar fazer tantas asneiras", penso eu. "Ainda me vai agradecer, já que desde que o puto lhe deixou uma marca no cotovelo depois de lhe ter agredido com uma escumadeira que a acho, sei lá, mais permissiva".
"Sissi! Sissi!". O grito pungente assombra-me as noites, desde então. Mas não, "a reacção não passará!", pensei eu - "é por uma boa causa".
"Sissi! Sissi!". Da cozinha, noto um silêncio ensurdecedor. Bolas, esqueci-me que me meti com uma parelha: Bonnie e Clyde - ele manda, ela faz. Ou deixa fazer, o que no caso vai dar ao mesmo...
Pronto, mais vale fazer uma pausa, deixar a senhora ir embora para casa dela e depois retomamos esta acção de formação.
Deixo o pequeno gnomo ir ter com a sua cúmplice. É um abraço xaroposo, que me faz lembrar uma cena de um filme de que já não me recordo, de quando o assassino sai da penitenciária e encontra a namorada que esperou por ele durante 20 anos.
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Para meu espanto, meu enorme espanto, a Sissi está lavada em lágrimas - "Meu querido! Meu lindo", balbucia ela. Ficam uns bons 5 minutos agarrados um ao outro, ela a tremer, ele já com certeza a arquitectar um próximo plano malévolo. E eu, o novo ogre lá de casa, a sentir-me a Personificação do Mal, o Darth Vader, o George W. Bush, o Co Adriaanse, deslocadíssimo nesta cena retirada de uma qualquer novela venezuelana de faca-e-alguidar. E o pequeno génio do mal há-de engendrar novos crimes, dignos de me transformar os dias num filme indiano, como diriam os outros...
Etiquetas: Histórias do Pequeno Gnomo, Rantas
1 ComentÁrios:
É o lado negro da Força...
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