terça-feira, julho 26, 2005

Rewind

Soares é fixe? - Confesso que nutro uma especial antipatia pelo personagem. Teve um papel histórico na afirmação e consolidação da democracia portuguesa, com muita asneirada pelo caminho. Foi PM e Presidente da República. Cumpriu o seu papel. Obrigadinho.
Outras notas históricas: é um dos pais do "bloco central", filho ilegítimo nascido de flirts com o PSD. É, também, responsável por muito do mal de que padece a democracia portuguesa. A submissão do Estado a interesses, lobbies e corporações, a sujeição dos partidos de governo ao "aparelho" e aos pequenos caciques e negociatas, têm muito a ver com a forma de Soares estar na política. Astuto, sempre entendeu que a concessão era meio caminho para a vitória. A dele, pessoal, que tem um umbigo do tamanho do mundo.
Muito provavelmente, vai encontrar um personagem igualmente irritante como adversário: Cavaco Silva. Este contribuiu para pôr fim a algumas derivas socialistas e para continuar a abertura do País ao mundo. Mas, além de perpetuar alguns dos piores vícios de Soares (a conivência com a corrupção e a cedência a interesses), o bimbo algarvio - um dos seus grandes defeitos é mesmo este, ser um enorme bimbo com tiques autistas - apostou em modelos de desenvolvimento que deram no que deram. É o campeão das oportunidades desperdiçadas (ex aequo com Guterres).
Se Portugal está assim - uma democracia relativamente estável, uma economia aberta, um crescimento sócio-económico interessante nos últimos 30 anos - pode agradecer a Soares e a Cavaco.
Mas, nos constrangimentos ao nosso crescimento, a afirmar-mo-nos decidididamente como País moderno e viável, é também a estes dois cavalheiros que podemos atribuir as maiores responsabilidades. Nunca conseguiram ver mais longe. São, na sua enormidade, seres pequeninos, incapazes de golpes de asa. Pensam, cada um à sua maneira, que reencarnam D. Sebastião e que tudo o que fazem ou fizeram é (quase) perfeito. Acreditam que estão acima do povo português, que lhes deve ser tributário e reverencial. Não percebem que são os dois maiores responsáveis pelo estado das coisas (no melhor e no pior), e que o povo português não é melhor porque eles não foram melhores que o povo.
O problema não é Soares e Cavaco serem os candidatos do PS e PSD, respectivamente.
O problema é que não vamos ter alternativas e um deles vai, muito provavelmente, ser o próximo Presidente da República. O problema é esta democracia, tutelar e oligárquica, doente, corrupta e decadente. O problema é sentir-me a viver num Portugal em fast rewind. Pode ser que, quando chegar ao fim, a fita parta.

sexta-feira, julho 22, 2005

Grande Ulrich

"Lucros do BPI aumentam 22%" (in Diário Económico, 22/7)
Será que, por lá, herr Ulrich conseguiu cortar 10% nos vencimentos dos seus funcionários?

terça-feira, julho 19, 2005

Ena...

Segundo o "Público" de hoje (pg. 22, "O Comentário"), José Sócrates reagiu às alarvidades de herr Ulrich com perplexidade. "Há banqueiros com cada ideia", terá dito.
Finalmente, uma reacção. E logo do PM. Sinto-me menos... quixotesco.

segunda-feira, julho 18, 2005

Heil Ulrich

Um tal de Fernando Ulrich, patrão do BPI, foi a uma conferência dizer que (e passo a citar, de acordo com o Expresso) " os portugueses deviam ganhar menos 10%", "não estão preocupados com a competitividade e crescimento" e só "querem passar o tempo todo na praia".
O senhor Ulrich, obviamente alemão, não gosta dos portugueses, obviamente todos uns malandros que não gostam de trabalhar. Penso que, entre outros, o senhor Ulrich também deve estar a falar dos trabalhadores do seu banco, o BPI.
Já dei uma volta pelos blogues mais lidos e pelos jornais "de referência" (a Bola incluida) e ninguém comenta esta alarvidade do senhor Ulrich. Nada. Silêncio sepulcral e, para mim, assustador.
Não vou entrar pelos aspectos económicos da medida (-10% de salários=-10% de IRS sobre o trabalho dependente, que é o que "paga a crise"=- poder de compra= deflação...). Nem vou lembrar ao senhor Ulrich os riscos que esta medida traria para o aumento do crédito mal-parado, o que seria um problema para a Banca.
Em vez de apontar à redução da despesa, do peso do Estado, o senhor Ulrich atira contra os portugueses. E eu, que não sou malandro, que este ano ainda não pus os pés na praia e que não sou aumentado à 3 anos (é a crise e... os mercedes novos da administração), fico chateado. Por isso, vou, hoje mesmo, fechar a minha conta no BPI. Fora isso, gostava de deixar uma mensagem ao senhor Ulrich: vá bardamerda (desculpe, mas não sei escrevê-lo em alemão).

quinta-feira, julho 14, 2005

Uma certeza

De uma coisa estou certo: sou o mais atento leitor deste blog.
Explico: por vezes, quando posto, aproveito para fazer uma revisão do que já foi escrito. Além de isso me fazer acreditar que não estou a perder o meu tempo com algo completamente inútil, sempre melhoro a relação com o meu umbigo.
Mas o site meter diz-me que, por estes dias estivais, não sou o único leitor. Há, pelo menos, mais um IP que vem aqui regularmente. Obrigado.
Houve, no entanto, dias em que o "Revisão" chegou a ter algum sucesso, com várias (mais de 5, pasme-se) visitas por dia. Mas isso foi no tempo em que escrevia mais sobre futebol e, essencialmente, sobre o Sporting. Entretanto, perdemos o campeonato e a taça UEFA não ficou por cá. Mas ânimo, a nova época está quase a começar.
Entretanto, neste defeso, quero dedicar um post (este) ao leitor(a) outro que não eu.
Aquele abraço!

domingo, julho 10, 2005

República das Desertas

"Localização
As Ilhas Desertas são constituídas por três ilhéus (Ilhéu Chão, Deserta Grande e Bugio) situados a SE da Madeira, no prolongamento para Sul da Ponta de São Lourenço, distando desta 11 milhas marítimas e do Funchal 22 milhas. A sua latitude é limitada pelos paralelos 32º e 24´05´´N e 32º 35´20´´N, e a longitude pelos meridianos 16º 27´45´´W e 16º32´50´´W.
Constituição
De origem vulcânica, na constituição geológica das Ilhas Desertas predominam as cinzas de cor avermelhada e amarelada, que em geral formam camadas mais ou menos definidas e são, por vezes, atravessadas, no sentido vertical, por filões de basaltos. As Ilhas Desertas possuem uma extensa faixa litoral (cerca de 37700m) quase toda muito rochosa, formada por escarpas muito inclinadas e quase a pique, o que as torna praticamente inacessíveis."
(in página do Parque Nacional da Madeira)
População e dados históricos
Em finais de 2005, (sim, infelizmente isto é, a partir daqui, uma obra de ficção), em referendo convocado para o efeito, o povo português mandou povoar as ilhas desertas e, no mesmo acto, reconheceu-as como Estado soberano e independente.
Por escolha democrática - pela primeira vez num processo eleitoral em Portugal foram admitidos os votos por telefone, em chamadas de valor acrescentado, o que contribuiu para a redução do défice - os eleitos do povo para proceder ao povoamento foram os cidadãos Mário Soares, Grunho da Madeira, Ana Drago, Francisco Louçã, Manuela Moura Guedes, Valentim Loureiro, José Veiga, Fátima Felgueiras, Avelino Ferreira Torres, Herman José, Manuel Monteiro, Nuno da Câmara Pereira e Elsa Raposo.
Esta eleição, tal como os referendos ao aborto, produziu resultados vinculativos e irrenunciáveis. O povo escolheu, está escolhido! Quem não gosta que se amanhe!
Inês Serra Lopes também seguiu viagem, uma vez que foi nomeada directora do único orgão de comunicação social da República das Desertas ("O Independente das Desertas").
Crónica dos primeiros dias
O Grunho da Madeira já anunciou que vai autoproclamar-se imperador do Ilhéu Chão, não admitindo, posteriormente, que Ana Drago lá ponha os pés, uma vez que esta já foi a Macau.
A jovem, reagindo, afirmou-se aliviada e foi avisando que ninguém - e, sobretudo, Elsa Raposo - deve "ter ideias", uma vez que tem direito ao seu corpo.
Entretanto, Nuno da Câmara Pereira vai dizendo que o título de imperador do Ilhéu Chão lhe pertence por direito natural e divino.
Avelino Ferreira Torres e Valentim Loureiro vivem numa constante e acesa troca de ideias. Numa curiosa inversão de pápeis, Manuela Moura Guedes toma parte nas discussões e Mário Soares é o moderador. É indiferente. Ninguém ouve os outros nem aprende nada.
Francisco Louçã, falando em opressão dos povos, tem passando os primeiros tempos a implorar a Herman José que não insista em cantar e, enquanto enfatiza que "para bardo já chega o monárquico salazarento fascistóide", vai acenando a última página de uma das aventuras de Astérix, a sua mais recente "bíblia ideológica".
Em reacção, Herman José canta-lhe o "És tão boa, és tão boa..."
José Veiga já fundou o Desertas FC e, nas primeiras declarações ao "Independente das Desertas", afirmou pretender atingir os 22 milhões de associados.
Fátima Felgueiras está em parte incerta. Há quem diga que está refugiada no ilhéu do Bugio mas que tem vontade de regressar à Deserta Grande.
Colocam-se dúvidas quanto à real existência de Manuel Monteiro, que já foi carinhosamente alcunhado pelos desertinos (habitantes da República das Desertas) como "o Espectro".
A fauna e a flora das desertas têm realizado manifestações contra a chegada dos novos habitantes. O balir das cabras montanhesas é pungente.

quinta-feira, julho 07, 2005

Ser Sócrates

Querer ter os mesmos sentimentos que Sócrates não é fácil. Sim, estou a falar do PM. Como podem constatar, no post anterior mandei às malvas uma promessa que tinha feito no antecedente. Quis-me sentir como Sócrates com os impostos. Mas se este quebrou a promessa eleitoral por só ter tido real noção da dimensão do défice após as eleições, já eu fui confrontado com um défice muito maior. O défice de estima que tenho pelas duas personagens do post anterior. Tinha de arranjar uma solução. Casá-los pareceu-me a mais indicada. Mas, a partir de agora, nunca mais volto a escrever o nome do burgesso da Madeira.
E espero, sinceramente, que o meu gabinete não emita nenhuma nota, mais logo à noite, a limitar a amplitude e efeitos desta minha declaração.

Alcoviteiro

Uma nova rubrica do Revisão, feita de "wishful thinking".
Gostava de, um dia, poder ver reunido um casal improvável mas, provavelmente, perfeito.
Só de imaginar, não consigo parar de me rir. Aturavam-se um ao outro e deixavam de nos chatear. Eles são - as senhoras primeiro - Ana Drago e... (glup) Alberto João Jardim. Pensem no potencial...
Eles ainda não sabem, mas acho que foram feitos um para o outro.

terça-feira, julho 05, 2005

O batráquio da Madeira

O batráquio da Madeira, cujo nome, a partir de hoje, me recuso a escrever (era isso que tu querias, oh camelo, não era, ver o teu nome escrito e dito em todo o lado?) está cada vez mais mentecapto.
Agora, depois dos "cubanos", são os chineses. Eu, que já fui várias vezes à China, onde fui muito bem recebido, gostava de explicar aos amigos chineses que não vale a pena, sequer, pensar em - por vingança - comer os miolos do primata insular. É que ele não os tem...
Penso que a nossa constituição proíbe a apologia xenófoba. Não se pode fazer nada, sei lá, destituir o homem com fundamento em apelo à xenofobia?
Please...please...Sá Fernandes (por exemplo), podemos pensar numa acção popular com este tipo de pedido?

domingo, julho 03, 2005

O Estado da Europa (II)

E agora, para algo completamente diferente...
[Espero que apreciem a velada referência "MontyPythoniana" - sim, porque aqui, à imagem e semelhança doutros blogs (ver, por todos, o Abrupto) também somos muito cultos e sabemos citar, ainda que disfarçadamente, os autores que prezamos.]
Bom, mas vamos então para algo de diferente. Damos início, no Revisão, à rubrica "Deixa-me lá responder a este comentário".
O LSP comentou o post "O Estado da Europa" (ver abaixo).
Caro LSP: parece-me que, pelo que dizes, concordas com a adesão de Israel, de Marrocos ou da Líbia à UE.
Se dispensas qualquer nota identitária comum aos países da União, se entendes que, na Europa a construir, tudo gira em torno do poder e do mercado, proponho-te que lances um movimento para mudar o nome à coisa. Em vez de União Europeia, pode ser qualquer coisa como "União dos Países que Não Querem Ser Dominados Pelos Estados Unidos da América e que Têm Medo da China (UdP/qNQSDPEUAQTMdC).
Esta ideia é promissora e dá mais asas do que uma latinha de bebida energética...
Já agora, para que o quadro que desenhas faça sentido, parece-me existirem motivos óbvios e suficientes para expulsar o Reino Unido da UE (desculpa, da UdP/qNQSDPEUAQTMdC).
Em relação à preocupação que demonstras relativamente à Sibéria, penso que te compreendo: na Europa que defendes, ter uma Sibéria à mão dá sempre jeito. Afinal, se bem te entendo, o pragmatismo político e geo-estratégico deve estar acima de tudo, pelo que um bom dum Gulag nas frias estepes muito ajudará à construção do "novo edifício europeu".
Agora a sério (mais a sério): se a UE for (só) aquilo que tu defendes que ela seja, o meu voto num futuro referendo à constituição está decidido: é Não.

sexta-feira, julho 01, 2005

Erótico

O Salão Erótico de Lisboa (SEL) está aí, até Domingo. Já fui.
Lá, tudo se mistura: erotismo, sexo e pornografia, homens e mulheres, homosexuais, heterosexuais e sado-maso, assumidos e dissimulados, vibradores, lubrificantes e outros "extras" e adereços, liberais e conservadores, televisões em directo, rádios, jornais e blogues, virtude e pecado, VIPS e anónimos, frustrados e realizados, tímidos e ousados, natureza e silicone, famílias, grupos e solitários... Uma panóplia alargada de gente "normal" e de fauna bizarra.
Um pouco como na "festa do Avante" (sim, também já fui, confesso), mas sem pó e em nu.
A diferença essencial é que o SEL se preocupa mais com o hedonismo e o negócio do que com a salvação da humanidade. Isso traz algumas vantagens. Por exemplo, no Salão Erótico ninguém (nem sequer os mais aplicados "militantes") trata indiscriminadamente os visitantes por "camarada"! Uffffff...