quinta-feira, janeiro 05, 2006

Majestade


Caro Rantas,

Devo dizer-te que, na tua posta "Viva a República", além de um relativo autismo, denoto uma dispensável arrogância e, mais desagradável, alguma deselegância.
Porquê? - Basta citar-te: "...satisfazer o ego de meia dúzia de chavalada armada ao pingarelho"; "...é um argumento a roçar a desonestidade intelectual."; "...barulho por nada."; "sintomática de um certo elitismo que acompanha a corrente monárquica"...
Caramba, tanto rótulo!
Mas, quanto a ideias...
Comecemo pelo elitismo: sim, é verdade, sou elitista em relação a gente burra e mal-educada. E olha que também há muitos monárquicos burros e mal-educados. Garanto-te, por isso, que não sou monárquico por pertencer a alguma casta ou a qualquer tipo de aristocracia. O que nos leva já à segunda questão: defender a monarquia (só falo por mim) não é armar ao pingarelho, muito menos pertencer à "chavalada". É defender uma ideia política que se entende servir melhor Portugal. Porra, tu conheces-me. Ao fazer estas alusões, lamentavelmente, quem está armado ao pingarelho és tu. No futebol, dir-se-ia que te estás a fazer à fotografia...
Pegas no que te interessa do meu texto, fazes grande espalhafato e ignoras o essencial. Mas eu recordo-te: defendo uma monarquia moderna, com um rei sem corte. Dei exemplos de países monárquicos mais ricos e desenvolvidos onde, fiz questão de acrescentar, a DEMOCRACIA É MAIS VIGOROSA do que em Portugal. Esta parte ignoraste olimpicamente. Falei de um rei independente de partidos e interesses, que represente unicamente um povo e a sua história.
Sobre tudo isto, disseste nada. Posso ainda acrescentar que defendo um Estado absolutamente laico, para que se não te levante nenhum temor.
Podia apresentar-te ainda outras questões que, para mim são importantes, como a estética e o "folclore" de uma monarquia que, em tempos de globalização e de diluição da identidade nacional num "europeísmo" difuso, nos podem ajudar a lembrar, com orgulho, que somos portugueses.
Dizes que nada disto é importante. Eu digo que é muito importante. Concedo que não é urgente. Nem sequer defendo que se faça já um referendo sobre a questão. Mas que, democraticamente, a nossa constituição deve ser alterada para permitir essa possibilidade, lá isso deve.
Aliás, por muito que te custe - talvez - entender, considero-me pelo menos tão democrata como tu. Não acho é que a democracia seja perfeita e tento pensar em elementos que a possam "temperar", melhorando o seu funcionamento. Acredito, verdadeiramente, que a monarquia pode dar, para isso, um importante contributo. Mais do que um dogma de fé, é cá uma ideia minha.
E tu, além do recorrente acenar com a possibilidade de um rei "debilóide" (já ouviste falar em aclamações, resignações, destituições? Pois é...), que ideias tens?
Ou será que te ficas só por cruzar os braços perante o "charco", entretendo-te a desancar nas horas livres? Olha que é pouco, meu caro, é muito curto e - acho eu, espero eu - não convence ninguém. Menos, claro, os dogmáticos. Mas esses não precisam de ser convencidos. Têm os mesmos preconceitos que tu e, quando ouvem falar em monarquia, pensam numa coisa anacrónica e esclerosada. Só que a monarquia que defendo não copia modelos passados, é moderna e pode ser útil. É só uma questão de, democraticamente, quereres prestar atenção ao que digo e pretenderes discutir civilizadamente, sem te refugiares em preconceitos, chorrilhos de lugares-comuns e pesporrência. E, repara, nem és obrigado a concordar comigo...

10 ComentÁrios:

Anonymous Anónimo disse...

Realmente...."chavalada armada ao pingarelho"! Eu cá ia-lhe às trombas!

05 janeiro, 2006 08:37  
Anonymous Anónimo disse...

Oh Ranys, tu já conheces este rapaz?
http://portugalcontemporaneo.blogspot.com/2006/01/degenerao.html

Como já o disse concordo cada vez mais com voces. Estas Presidenciais estao a causar-me um certo 'je ne sais quois' de aversao ao sistema. Porque será?

05 janeiro, 2006 13:30  
Blogger Dever Devamos disse...

A mim parece-me uma fuga para a frente. Discutir se devemos ser república ou se somos monarquia é "peanuts". Não será mais importante perceber como é que a (por concidência) "monárquica" Espanha se tornou em menos de uma dúzia de anos a oitava economia do mundo, como é que este ano cresceram mais de 3%, criaram meio milhão de postos de trabalho, têm um superavit nas finanças públicas (com previsão que este se mantenha até 2008) e nós, nesta (por concidência) república andamos na mesma merda e desde 1997, repito 1997, andamos a divergir do resto da Europa e tenhamos o pior desempenho económico da OCDE.

05 janeiro, 2006 21:06  
Blogger El Ranys disse...

Sim, Dever, percebo o que me queres dizer: "It's the economics, stupid..."
Claro que isso é bem mais importante, o bem estar material das pessoas e da Nação, mas uma coisa não invalida a outra, pois não?
Podemos tentar perceber uma coisa e, em simultâneo, discutir outra, não é?

05 janeiro, 2006 23:37  
Blogger El Ranys disse...

Harpic, já fui ver o blog Portugal Contemporâneo. Muito bom e bem escrito. Vou continuar a lê-lo e, qualquer dia, pode até aparecer aqui o link.
Obrigado pela sugestão.

(será do Guaraná?)

05 janeiro, 2006 23:39  
Blogger Alex disse...

Já dei a minha opinião acerca da "polémica" monarquia-republica.
Quero comentar o comentário do de verde vamos.
De facto a Espanha tornou-se um gigante enquanto nós continuamos um pigmeu. Uma das coisas que pode ajudar é a estabilidade politica e de politicas. Se não me engano, Espanha teve o Adolfo Suárez, o Filipe Gonzales, o José Aznar e agora o Zapatero. Nós tivemos quantos chefes de governo ?
E, indiscutivelmente a maior estabilidade foi dada pelo rei Juan Carlos.
Saúdinha

07 janeiro, 2006 00:05  
Blogger Alex disse...

Não sei se era só para o El Ranys, mas também espreitei o Portugal Contemporâneo. É muito bom. As pilinhas dos Liberais está espectacular.
Saúdinha

07 janeiro, 2006 01:26  
Blogger Rantas disse...

El Ranys,
Pensei em deixar isto morrer sem qualquer comentário. Mas acho que não consigo.

É verdade que o meu poste é agressivo.

Pausa: peço encarecidamente a alguém que tenha começado a ler por aqui que não faça juizos de valor sobre este blog sem antes ler os postes anteriores sobre "Rever a Constituição" e "Viva a República".

Já está? Já leu os postes? OK, continuemos. É verdade, o "Viva a República" é agressivo. Merecedor de uma advertência, concedo, um cartão amarelo. Este poste de Sua Majestade é uma entrada a pés juntos com cotovelada, por trás, com certeza passível da amostragem directa do cartão vermelho!

Para responder ao meu pingarelho (OK, OK, não vão por aí, se estão a pensar noutra coisa vão reler o poste com mais atenção, olhem que este não é um blog desses, este blog é um blog familiar) e à minha acusação de desonestidade intelectual, optaste por:
"autismo",
"arrogância",
"deselegância",
"que ideias tens?",
e - a minha preferida - "pesporrência".
Brilhante!

Muita coisa se poderia dizer sobre este assunto. Mas, em algumas coisas concordo contigo: "não é urgente".
Para mim não é também minimamente importante.
Então fechemos esta nossa discussão privada (que se tornou pouco edificante, creio, para a nossa dezena de leitores).

Um abraço!

08 janeiro, 2006 01:35  
Blogger El Ranys disse...

Como diria o Coelhone, "quem se mete connosco leva"!

Morto e enterrado.
Um abraço

08 janeiro, 2006 03:35  
Anonymous Anónimo disse...

Oh carissimo Alex, por quem és! A recomendacao do Portugal Contemporaneo só estava dirigida ao Ranys devido a um post em que ambos apresentavam pontos de vista muito semelhantes.

Aliás a mim muito me apraz que tu visites e leias os textos dos liberais da blogosfera; e para mais que tenhas gostado!

09 janeiro, 2006 18:26  

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