segunda-feira, novembro 13, 2006

Jornal do Incrível

Este fim-de-semana li uma verdadeira notícia, no Expresso - coisa que, nos tempos que correm, não é de somenos registar, convenhamos...
Dizia a notícia que um Serviço Público, com 11 funcionários e custos de funcionamento de mais de meio milhão de euros por ano, se dedicava, porfiada e diligentemente, a lidar com aspectos relativos ao Serviço Cívico incorrido por todos os mancebos que se apresentassem como objectores de consciência ao Serviço Militar Obrigatório (SMO) - o Gabinete do Serviço Cívico dos Objectores de Consciência (GSCOC), que depende directamente da Presidência do Conselho de Ministros. O Governo, dizia a notícia, vai cortar nas despesas, reduzindo-as este ano para cerca de 200 mil euros. Parece-me bem. Um corte de 60% é sempre positivo. Claro que agora os pobres Objectores de Consciência deixarão de se dedicar a actividades tão cívicas, mas também é preciso relativizar as coisas. Afinal, como o SMO acabou há cerca de 3 anos, os Objectores tornaram-se um pouco - como direi - obsoletos. E se eles se tornaram obsoletos, o que dizer deste GSCOC? Onze almas, cívicas com toda a certeza, bem-intencionadas, decerto, o que farão da sua vida? Hein? Três anos a jogar ao Solitaire, a lutar por uma carreira, a manter privilégios de funcionário público, e agora, o que fazem? Fecha-se o Serviço, sem mais nem menos?!
Tantos processos ainda a tratar, tanta papelada, tantos carimbos por dar, e fecha-se o Serviço? Estou inconsolável. Esta vida é uma porca, sempre a pregar-nos partidas. Agora que se estava a abrir uma vaga na Repartição, agora que o Antunes ia para a reforma e eu ia herdar o gabinete dele, com aquele PC onde até dá gosto ver pornografia na net e jogar ao sudoku, é que me fecham o Serviço? Quem é que me paga por estes anos de devoção à causa da Objecção de Consciência?
Isto, infelizmente, apesar de ser incrível, não é inteiramente ficção. O GSCOC existe mesmo. Mais - neste momento, no portal juventude.gov.pt, continuam a referir-se os procedimentos a seguir pelos jovens objectores de consciência para não cumprirem o SMO!
Todos estes serviços públicos, pagos com o dinheiro dos contribuintes, a esfregar as costas uns aos outros, de ineficiência em ineficiência, de improdutividade em improdutividade, de deficit em deficit. De greve em greve? Faltou de facto um apontamento de reportagem importante no Expresso - os funcionários do GSCOC aderiram à greve dos funcionários públicos? E - mais importante ainda - alguém deu por isso, porra?

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3 ComentÁrios:

Blogger El Ranys disse...

Nops.
Bem esgalhado, o poste.
Mas convenhamos que a culpa desta extraordnária existência não é dos funcionários do GSCOC. É de todos os que, podendo acabar com essa treta, deixaram que eles lá andassem por 3 anos sem nada para fazer. Incompetência de estado, é o que é. Paga por nós.

14 novembro, 2006 02:02  
Blogger Rantas disse...

É verdade.
E não é só os desgraçados do GSCOC. Com certeza que a manutenção do site juventude.gov.pt custa dinheiro. E se esse dinheiro é gasto, deveria ser para manter a informação actualizada. 3 anos depois do fim do SMO, ainda permanecem as ligações obsoletas.

14 novembro, 2006 09:53  
Blogger A.Teixeira disse...

Rantas, envia a questão para o Bettencourt Picanço que ele consegue, começando talvez por compreender e concordar com a extinção do SMO, explicar-te a necessidade do organismo mesmo três anos depois da extinção do mesmo...

E atenção à semântica! É um organismo que se extingue, não um serviço que se fecha. Há sempre um fundo quase criminoso, anti-ecológico, quase a beirar o interesse da Quercus, quando se extingue um organismo. que se perde com o emprego da expressão encerramento do serviço...

14 novembro, 2006 23:43  

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