domingo, setembro 03, 2006

Da Guerra


Ontem, dia 1 de Setembro, completaram-se 67 anos. Em 1939 começou a Segunda Guerra Mundial, o segundo round da por alguns apelidada como a "Guerra Civil Europeia de 1914-1945". Foi o conflito mais sangrento de todos os tempos, morreram cerca de 50 milhões de seres humanos, o Mundo nunca mais foi o mesmo.
Venceram os "bons", os da Democracia e da Liberdade, perderam os "maus", os do Nazismo e do Genocídio. O Mundo ficou um lugar melhor do que teria ficado se essa guerra tivesse tido um resultado distinto. Não se tornou o Mundo Ideal, o Paraíso na Terra, mas impediu-se o Inferno e as Trevas (as câmaras de gás, o assassínio à escala industrial, o estado policial por excelência).
Daqui a pouco mais de uma semana, será o 11 de Setembro, que assinala o 5º aniversário do início da Guerra actual. Como será conhecida - Terceira Guerra Mundial? A Última Guerra Santa?
Enfim, mais importante do que o nome pelo qual os historiadores irão designar esta guerra, é saber quem irá ganhá-la e como será o Mundo depois dela.
Não tenho dúvidas de que, mais ainda do que em 1939-45, o combate é contra Forças do Mal. A explosão das Twin Towers, as bombas no comboio em Madrid, as explosões no metro e num autocarro em Londres, as tentativas de rebentarem 10 ou 11 aviões há menos de um mês não permitem duvidar disso. "Eles" estão a mais e é preciso dar cabo deles. "Nós", o nosso lado, estamos a perder a guerra. Tanto porque "eles" são muito inteligentes e esta é uma guerra com características totalmente novas - a guerra menos clausewitziana de todos os tempos - como o "nosso" lado se tem revelado bastante menos inteligente e muito dado a "tiros no pé". O ataque ao Iraque foi um erro grandioso, que apenas deu forças aos "maus", enquanto nos enfraqueceu na nossa força moral. Independentemente da forma como a guerra tem sido conduzida - pessimamente, do "nosso" lado - só há uma certeza - "nós", o Ocidente, os racionais, temos que acabar com "eles", os fanáticos religiosos que querem impôr a sharia. É tão simples como isso - ou nós ou eles.
"Eles" têm razão em muita coisa? Claro que têm! Israel não é flor que se cheire, a invasão do Iraque foi totalmente injustificada, os palestinianos, os libaneses, todos têm alimentado moralmente o lado "deles". Mas atenção - como se diz no Brasil, "uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa". Eu também considero que a Alemanha nazi tinha muitas razões perfeitamente válidas para estar descontente. O Tratado de Versalhes foi vergonhoso, a humilhação foi terrível, o sentimento de traição estragou tudo. Mas não foi isso que impediu que se tivesse que partir para a guerra, certo?

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6 ComentÁrios:

Anonymous Anónimo disse...

Concordo com quase todos os seus comentários sobre este tema. No entanto, não resisto afirmar algo que será considerado, de certeza, com uma provocação. Por vezes, tenho pena que o Hitler tenha falhado, ou seja, não tenha eliminado todos os Judeus. É que infelizmente, como todo o poder económico que têm, aliado com o sentimento de vítimas com que o Mundo ficou após II Guerra permitiu com os Judeus sejam os principais causadores da instabilidade do Meio Oriente, sejam uma máscara dos Estados Unidos das suas intenções políticas e económicas, para além de ter incentivado o "fundamentalismo judeu"... enfim, pensei nisto que lhes vou dizer neste momento. Alguém considera como vítimas os Ciganos ??! também foram perseguidos pelos Nazis, pelo Hitler.

03 setembro, 2006 12:48  
Blogger Rantas disse...

Caro Tugas,

Para quem por vezes é assaltado, mesmo que momentaneamente, por um sentimento de pena por Hitler não ter ganho a guerra, recomendo a leitura duma crónica de RAP (Ricardo Araújo Pereira) que saiu na Visão e que está no livro dele. Refiro-me à crónica "Orgulho beige".

Apesar de discordar de vários passos dados pelos EUA e por Israel, não consigo conceber essa visão da Internacional Sionista, da Grande Conspiração Judaica, que pelo menos aparentemente o meu amigo identifica.

Os ciganos também foram perseguidos e também foram vítimas, naturalmente. Bem como os homossexuais, os comunistas e várias outras minorias. Sem dúvida que a minoria que mais sofreu foi a judaica!

Em 1939, combateu-se a intolerância. Hoje, o combate repete-se - é também contra a intolerância, desta vez com roupagens ideológicas diferentes - emanadas directamente da religião. É isso que é preciso expurgar. E Israel, nessa luta, está do lado dos "bons". É indubitável. Mesmo que não tenha um comportamento isento de erros e de excessos, em Israel comunga-se dos mesmos principios que nas sociedades livres de matriz ocidental.

Há alturas em que é necessário deixar para trás os relativismos, tão ao gosto dos europeus, e analisar o Mundo a preto e branco. Não por gosto e sim por necessidade. O dilema é "ou eles ou nós", por muito que isso nos viole as nossas boas consciências. Infelizmente, numa luta "mata-mata", as duas partes não têm de estar de acordo com as características mortíferas do combate. Infelizmente, quem por último desperta para o facto de o combate ser eliminatório é que o perde...

03 setembro, 2006 15:08  
Blogger El Ranys disse...

Caro Rantas,
Há raros momentos em que me sinto obrigado a discordar de ti publicamente. Este é um deles.
Cá vai:
Não concordo, nem por um segundo, que te tenhas dado ao trabalho de responder a um comentário onde se escreve "Por vezes, tenho pena que o Hitler tenha falhado, ou seja, não tenha eliminado todos os judeus".
Por mim, este comentário - que, na visão do autor poderá até ser uma "provocação" inocente - ia direitinho para o lixo. Já estava apagado. É ranço puro.
Como te deste ao trabalho de responder, fica ao teu critério apagá-lo e aos comentários subsequentes, incluindo este meu.

04 setembro, 2006 11:37  
Blogger manolo disse...

O Holocausto foi apenas o ponto máximo da loucura europeia contra os judeus. A história do povo judeu é feita durante séculos de intolerante perseguição, humilhação irracional, matança e tortura. E tudo isto pelos adeptos de Jesus Cristo, ele próprio um judeu, defensor do seu povo. O facto de após o movimento Sionista (afirmação o Direito à existência de um Estado próprio, em meados do séc. XIX) e o êxito impensável de Israel terem transformado as vítimas oprimidas em carrascos opressores, foi um facto que abalou as consciências da esquerda europeia, que, apoiou o povo judeu mas que hoje os condena. A questão dos "bons" e dos "maus", é a tentativa de clarificar um problema complexo. A justiça total e absoluta não é atingível. Os habitantes árabes da Palestina sofreram e sofrem uma tremenda injustiça. Maior seria se fosse negado a Israel o direito de existir. Esta opinião é que divide. Tudo o resto, o facto de a nossa ética, a nossa civilização, a nossa cultura estar assente numa matriz judaica-cristã e greco-romana, e disso nos orgulharmos patrece-me indiscutível. E se, como é referido no comentário do Tugas, os judeus têm grande poder económico, têm também grande poder cultural, científico, cívico, artistico e do pensamento, etc. Imagine-se a lista de judeus que contribuiram para a cultura europeia e mundial. E como todos sabemos os maiores críticos de Israel, são os próprios israelitas. A situação é complexa, e, tal como a globalização não depende do mundo ocidental, também a guerra depende mais dos outros. E o meu posicionamento é claramente a favor da Razão contra o Obscurantismo.

04 setembro, 2006 15:22  
Blogger Alex disse...

Atenção que na II Guerra não ganharam só os bons, as Democracias Liberais. Do lado dos vencedores esteve a URSS que engoliu meia Europa e a condenou à ditadura. Sofremos a Guerra Fria durante várias décadas. Nomeadamente, Portugal não ganhou nada. Quanto à guerra actual, é evidente qual o nosso lado. Isso não significa que fechemos os olhos a atitudes criminosas que não nos conduzem à paz mas fomentam a guerra. Israel tem direito, de facto, à sua existência. Mas um Estado Palestiniano a seu lado também. E isso é fundamental para a Paz. Não considero que os actos terroristas de fundamentalistas islâmicos sejam benéficos para a luta justa dos palestinianos a terem uma pátria. O que penso, ao contrário do que é dito, é que existem relativismos. A politica de Israel e USA não devem levar cada vez mais muçulmanos a fanatizarem-se e passarem a "terroristas". Pelo contrário, devemos mostrar os benefícios do nosso modo de vida, de maneira que a aberração do Estado Islâmico seja desacreditada interna e externamente. Naturalmente que é um tema muito complicado e não é a preto e branco. O importante é perceber : existe possibilidade da paz?
Saúdinha

04 setembro, 2006 20:37  
Blogger Rantas disse...

Alex,

Foste ao ponto que me parece crucial nisto tudo - do lado dos "bons", há "menos bons", que num outro contexto (ausência dos "maus mesmo, mas mesmo maus"), seriam os "maus" do filme. Aconteceu com a URSS, no período 1941-45.
Nesse período, houve reservas entre os Aliados, mas apenas de circunstância. Ao nível estratégico houve, desde sempre, uma comunhão de interesses que visava a derrota da Alemanha. No resto, estavam separados - na ideologia, na visão do pós-guerra, etc. Mas o essencial é essa comunhão de interesses - durante a guerra, não pode haver lugar ao cinzento - ou é branco, ou é preto.
Israel - se bem que esteja bem mais próximo de nós, em termos ideológicos, civilizacionais, sociais, do que a URSS nos anos 40 - cumpre aqui o papel dos soviéticos. Num outro cenário, seria talvez um cinzento. Devido à sua posição ("ponta-de-lança" do Ocidente?), está do lado dos bons. Mas só porque os seus inimigos são também nossos inimigos.

Se há coisa que nos parece fácil, ao analisar a sequência de eventos que levou à II Guerra, é julgar. Julgar os germanófilos, julgar os nazis, julgar os razoáveis, os relativistas, aqueles que contemporizaram. Como era possível não verem aquilo que, para nós, é tão evidente hoje? Que Hitler era um louco, que assassinou milhões, que queria a guerra?

Hoje, todos os europeus são Chamberlains. Amanhã, as pessoas irão sentir o mesmo tipo de dificuldades em entender a nossa relutância, que nós sentimos quando avaliamos a fraqueza de Chamberlain em Munique.

Já pensei que a "nossa" principal fraqueza se deve a Israel. No dia 10 de Agosto cheguei à conclusão de que Israel não tem nada a ver com isto. "Eles" não parariam, mesmo se se encontrasse um acordo de paz e de coexistência pacífica entre israelistas e palestinianos.

O ponto de não-retorno já foi ultrapassado.

Isto não significa que se tenha de aprovar a condução da guerra - Bush é uma besta, a invasão do Iraque foi um erro tremendo. Hoje, o Mundo está bastante mais perigoso do que há uns anos atrás. O facto de não nos revermos na liderança de Bush (puahh!), não impede que estejamos em guerra. Significa apenas que a estamos a perder...

04 setembro, 2006 23:31  

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