Divagações soltas
Já não bastavam as péssimas expectativas de carreira (onde chegar ao topo significa um espeto do Rei dos Frangos de Moscavide enfiado no sítio onde levam as galinhas) como agora ainda são atacadas pela gripe.
Como se não fosse suficiente o raio de vida que já levavam - sem 22 dias de férias por ano, nem seguro médico e, há que dizê-lo, a velha expressão "levar onde levam as galinhas" nunca me pareceu que as deixasse muito entusiasmadas - agora ainda a levam com o nariz a pingar.
E - deixo aqui a interrogação - será que as galinhas têm mesmo nariz?! Será por cima do bico? Desculpem-me a ignorância, mas eu sou um puro citadino. Mesmo na canja, só gosto de peito.
Quanto mais afastados estamos da vida rural, menos a nossa comida faz lembrar o animal que (ela) já foi.
Bom, mas como ia dizendo, a comida tem seguido um caminho aparentemente irreversível no sentido da indiferenciação e do irreconhecimento. Dantes, praticamente via-se o animal no prato: uma mão de vaca, um joelho de porco, uns pipis de carneiro. Aliás, muitas vezes não só se conhecia o bicho desde pequenino, como até já se lhe tinha comido a mãe.
Não sei porquê, mas esta última frase parece-me poder ter segundas leituras perversas.
Agora, este reconhecimento no prato dá-se quase só com o marisco - mas mesmo assim já andam por aí as delícias do mar. Há uns anos andava por aí um anúncio na televisão que brincava com o facto de uma criancinha julgar que o fiambre vinha não sei de onde, sem nunca o ter relacionado com o porco.
Não há ninguém que defenda o direito dos nossos filhos a conhecerem o que se lhes vai pôr no prato? Isto não será um plano dos americanos para globalizarem as ementas e tornarem os hamburgueres menos repulsivos? Pensem nisso. Voltarei a este assunto.
Etiquetas: Rantas
2 ComentÁrios:
Ao menos em Portugal toda a gente sabe que o peixe tem espinhas, escamas, rabo, ...
Há muita gente civilizada que julga que o peixe nasce em sacos de plástico ...
Lembra-me, quando menino e moço, convencemos um certo citadino que o esparguete crescia nas árvores...
Olhe que não, sotôr. Olhe que não.
A idade pode pregar algumas partidas dessas, de baralhações de memória...
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