A Capital
O encerramento dos jornais "A Capital" e "O Comércio do Porto" preocupa-me.
Desde logo, porque me salta à vista o estreitamento, cada vez mais acentuado, da pluralidade editorial.
Em Portugal, os meios de comunicação social concentram-se, aceleradamente, nas mãos de cinco poderosos grupos: Media Capital, Impresa/Balsemão, Lusomundo, Cofina e Impala (sim, a Impala também conta). Há ainda a considerar o Estado (RTP, RDP e LUSA).
Ainda não estão nas mãos dos principais "players" o Público, A Bola e o grupo Renascença, para além de outros de menor expressão.
Talvez por isso, assistimos a um cada vez maior "mimetismo" da informação que nos é oferecida (honra seja feita ao Público, que apesar de estar longe de ser bom é, ainda assim, o melhor jornal que se faz em Portugal, marcando por vezes a diferença).
Com o fim d' "A Capital", que eu, como sulista, elitista e liberal (entre ouras razões), conheço melhor que "O Comércio do Porto", desaparece mais uma voz que não estava subordinada aos grandes grupos e às "doutrinas dominantes". Se pensam que isso não é importante, recordem-se da tentativa de silenciamento do BES ao grupo Impresa. Desta vez não pegou, mas...
"A Capital" não era um bom jornal. Era um jornal agonizante, em luta pela sobrevivência, com carência absoluta de meios mas que, feito por "não-consagrados", conseguia fugir do "mainstream". O "beijo de morte" foi dado por um tal de Luís Osório, prodígio recente da rádio, TV e disco (e - pecado mortal - "criador" de Ana Drago). Um rapaz em vias de consagração, vivendo, ainda e sempre, à sombra da única coisa inovadora e interessante que fez na vida ("Portugalmente", lembram-se?).
Depois, cresceu e começou a "brincar" com e como os crescidos - por mim, ele até podia ter sido anti-fascista, activista no PREC, militante do PS e ter, hoje em dia, 60 anos, que eu não daria pela diferença.
Aproveitando uma redacção jovem (tentem verificar, por exemplo, a idade dos editores, peça fundamental da engrenagem), podia ter incentivado a criação de linguagens, grafismos e conteúdos específicos para um público-alvo definido (jovens urbanos, cosmopolitas, com habilitações médias/superiores e fartos do "charco"), que poderia garantir a sobrevivência da puiblicação.
Mas como, de jornais e de Portugal (desta nova geração portuguesa), percebe zero, orientou os critérios editoriais à esquerda e os conteúdos ao tal "mainstream" (é isso que os grandes fazem, não é?), cavando a sepultura da publicação moribunda. Um erro de casting.
No desemprego ficam cerca de quarenta jornalistas, que compunham a redacção mais jovem do País (com uma média de idades que não chegava aos 40 anos). Luís Osório vai, como quase-consagrado, continuar a dar-nos as suas iluminadas visões do mundo (RTP?). Tanto pior para a renovação de Portugal.
Os jornalistas da "A Capital" ainda acreditavam. Agora, ficaram a acreditar um pouco menos. Eu também.
A cada um deles, um abraço.
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