quinta-feira, julho 27, 2006

Evolucionismo vs. Obscurantismo


Foi com alguma condescendência e, porque não dizê-lo, até mesmo com alguma sobranceria, que abordei a leitura de um post sobre a evolução dos primatas para os humanos , no blog Ó Faxavor!

Notoriamente, o autor não fez o seu trabalho de casa. Depois de alinhavar algumas das características que mais nos distinguem dos macacos («bipedismo, cérebro grande, a linguagem»), decidiu-se – por exclusão de partes - pela característica dos polegares oponíveis, que nós temos e o macacal não.

É verdade que a sua argumentação é muito bem construída e está bem documentada, com exemplos práticos. Em resumo, o autor descobriu que «O POLEGAR DÁ IMENSO JEITO PARA CARREGAR NA BARRA DE ESPAÇOS!». Constitui uma surpresa como é que tão óbvia conclusão escapou ao longo destes anos à comunidade científica!

Enfim, devo dizer que a mim isso não me surpreende. E se não me surpreende é porque eu, Rantas, depois de apuradas investigações, cheguei a uma certeza sobre o que explica a «diferença fundamental» entre os humanos e todos os outros animais, e essa conclusão também passou ao lado de gerações de antropólogos! Note-se: aquilo que distingue os humanos dos primatas, la petite chose que fez a diferença, aquele pequenino detalhe, o elo perdido, é... o sexo oral. Sim, o sexo oral, vá, respirem fundo, engulam em seco, mas não neguem logo à partida um argumento científico antes ainda de conhecerem a sua fundamentação!

Não existe nenhuma espécie neste planeta que se dedique ao usufruto do sexo oral para além da nossa (e mesmo assim, ainda devem ser retirados alguns cristãos evangélicos e os adventistas do sétimo dia, que não se dedicam à prática).

Esse é o traço distintivo da raça, aquilo que constitui a nossa pulsão mais íntima, o nosso imperativo kantiano, aquilo que nos leva a ir caçar, a cortar as unhas, a ir aos saldos da Zara... é a esperança de um ganda broche! No caso das nossas excelsas companheiras, basta fazer as devidas traduções conceptuais.

Desafio qualquer investigador à seguinte experiência – durante 6 meses, providenciar sexo oral , numa base diária, a um grupo de primatas. Garanto que antes de terminado esse prazo, uns estarão a urrar “Ningúm pára o Benficú!”, enquanto que outros se terão tornado fortes candidatos à vitória num qualquer concurso da TVI, preencherão problemas de Sudoku ou assinarão crónicas na revista “Ana Atrevida”! Se não estiverem ainda completamente transformados em Homo Sapiens, pelo menos terão dado um salto na escala da evolução, para Homo Erectus.

Bom, o autor desse mesmo blog voltou mais tarde com um novo contributo, talvez antecipando algumas críticas a esta teoria; desta feita com o trabalho de casa feito, devo dizer - agora sim, pode constituir-se uma plataforma para uma discussão séria ao redor deste tema; no seu post, refere os hábitos sexuais dos roazes corvineiros: «O seu método de excitação é caricato: quer machos quer fêmeas têm uma fenda que é estimulada pelo bico dos outros (sexo oral, portanto)».

Confesso que a minha primeira reacção foi de desalento. Então afinal a minha teoria, tão bem estruturada e tão bem fundamentada, seria assim posta em causa? Anos de observação, anos de investigação, litros de suor deixados na camisola, seriam então invalidados por uns míseros peixes?

Mas não, caros leitores – a investigação científica é feita de altos e baixos, e se um dia estamos na mó de cima, noutro podemos estar de rastos, com a língua de fora (se me permitem a imagem). Neste caso, um detalhe salvador abriu-me os olhos – os roazes corvineiros são uma espécie de golfinhos. E não serão os golfinhos os animais mais inteligentes do planeta, depois dos humanos?

C.Q.D.

Imagem da salsicha retirada de Mockup Ads, via Substrato

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9 ComentÁrios:

Blogger El Ranys disse...

Ó Rantas, desculpa lá que te pergunte, mas não ias escrever um livro sobre esta fascinante temática dos primatas e do sexo oral?
Qunaod chega ao prelo tão notável obra?

27 julho, 2006 11:38  
Blogger Nelson disse...

Meu caro, é imperdoável tamanha falta de cultura científica!!!

Para já, dizer que os roazes e demais espécies de golfinhos são os mais inteligentes "a seguir ao Homem" já pressupõe que os humanos são os mais inteligentes do planeta. E a cada dia que passa tenho mais provas no sentido contrário.

Além disso, há espécies de macacos (alguns primatas) que praticam muitos tipos diferentes de sexo, nomeadamente masturbação, sexo anal e estimulação homossexual (quer machos, quer fêmeas). Creio que em breve descobriremos que os chimpanzés apreciam tanto um bom broche quanto o gorila do lado e com isso a sua teoria ficará irremediavelmente perdida!

Além disso, por mais que se queira dar ênfase ao sexo oral, as restantes formas de estimulação fazem uso intensivo do polegar, o que só vem confirmar a minha posição!

Aaaaaah, adoro discussões científicas sérias!

;)

27 julho, 2006 15:30  
Blogger Redus Maximus disse...

Caro Nélson,

pensava que estavas de férias...por isso é que não escrevias no teu blog...Já a postar!!

27 julho, 2006 18:30  
Blogger Alex disse...

Muito bem. Fez-se luz no meu espirito. Já entendo melhor tanta gente que se porta como um símio. Assim percebo tudo!
Gostei da foto da salsicha.
Saúdinha

27 julho, 2006 20:30  
Anonymous Anónimo disse...

Ningúm pára o Benficú!

28 julho, 2006 02:26  
Blogger Rantas disse...

Ranys,

É verdade, tinha um projecto para colocar esta teoria em livro. Mas - e agorta sim, estou em condições de o revelar - torturas várias, entre as quais se contam a ausência de quaisquer subsídios. Um que fosse! é uma vergonha, só neste país é que deixam a cultura e a investigação científica chegarem a este ponto! Depois não venham cá dizer...
Hoje são pianistas a emigrar para o Brasil, amanhã será a ideia de ir fazer broches a macacos que vingará num outro país que leve a sério estas coisas!

28 julho, 2006 22:48  
Blogger Rantas disse...

Nelson,

É também para isto que serve a blogosfera, para debates científicos sérios e profundos.
Agora... não entendi bem onde quer chegar com «formas de estimulação [que]fazem uso intensivo do polegar». Com o polegar, criatura de Deus?! E porque não com o dedão grande do pé??! Recomendo-lhe vivamente a utilização de outro dedo. Creio que o fura-bolos o ajudará no sucesso da investigação que tenha em mãos neste momento...

Um abraço!

28 julho, 2006 22:52  
Blogger Rantas disse...

Ah! E Nelson... subscrevo o apelo do Redus Maximus - as suas férias têm deixado blogosfera (enfim, parte dela) orfã de boa prosa e bom humor. Renovo o apelo: Já a postar!!

28 julho, 2006 22:54  
Blogger Nelson disse...

As férias (bem merecidas, por acaso) já acabaram. E já tenho sondagem nova!

Quanto à questão polegar versus dedão do pé: para um humano as suas funções são diferentes. Mas para um ser animálico quadrupédico, é a mesma coisa, não? Ou não será o dedão o polegar do pé? Ah! Aposto que não esperavas por esta :P

31 julho, 2006 11:33  

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