Ai Timor!
Não acompanhei em detalhe a forma como evoluiu a crise em Timor. As zangas de comadres entre Xanana e Alkatiri, entre o exército e a polícia, seriam risíveis, se não tivessem provocado mortes.
Há umas duas semanas li a crónica de José Miguel Júdice no Público. Resumidamente, ele afirma que a opinião pública internacional, com a sua ingenuidade e o seu romantismo, tem provocado dramas, guerras e massacres, ao apoiar a criação de países inviáveis, dos quais Timor é apenas um exemplo.
Não podia concordar mais com isto.
Acrescento ainda: não é líquido, para mim, que a democracia seja a melhor solução SEMPRE, em qualquer momento e em qualquer continente.
A auto-determinação dos povos, que conforta tantas e tão boas consciências, também não é um valor absoluto. Aliás, julgo não faltar muito à verdade ao dizer que o conceito foi "inventado" pelo Presidente Wilson, por volta de 1916, tendo sido aplicado logo após o final da I Guerra Mundial. Mas, na aplicação da teoria do "visionário" Wilson, ganhou a realpolitik, o que é o mesmo que dizer que, na prática, houve povos que foram filhos e outros que foram enteados, na divisão dos escombros dos impérios otomano e austro-húngaro. Há de facto valores mais elevados - a estabilidade, a paz, a prosperidade comum. Voltarei a este tema mais detalhadamente.
Timor é um país de faz-de-conta. Somente com a cumplicidade da comunidade internacional se pôde "fundar" esse país. Nós, portugueses, fomos os "idiotas úteis". Para nos ilibar da responsabilidade, não vale dizer que tínhamos boas intenções - porque de boas intenções está o inferno cheio, e para provar isso da forma mais amarga, os cemitérios timorenses também enchem rapidamente...
Etiquetas: Rantas
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