Abaixo assinado
O Ministério dos Negócios Estrangeiros emitiu ontem um comunicado, assinado por Diogo Freitas do Amaral, que reproduzimos na íntegra:
"Portugal lamenta e discorda da publicação de desenhos e/ou caricaturas que ofendem as crenças ou a sensibilidade religiosa dos povos muçulmanos. A liberdade de expressão, como aliás todas as liberdades, tem como principal limite o dever de respeitar as liberdades e direitos dos outros. Entre essas outras liberdades e direitos a respeitar está, manifestamente, a liberdade religiosa - que compreende o direito de ter ou não ter religião e, tendo religião, o direito de ver respeitados os símbolos fundamentais da religião que se professa.
Para os católicos esses símbolos são as figuras de Cristo e da sua Mãe, a Virgem Maria. Para os muçulmanos um dos principais símbolos é a figura do Profeta Maomé. Todos os que professam essas religiões têm direito a que tais símbolos e figuras sejam respeitados.
A liberdade sem limites não é liberdade, mas licenciosidade. O que se passou recentemente nesta matéria em alguns países europeus é lamentável porque incita a uma inaceitável «guerra de religiões» - ainda por cima sabendo-se que as três religiões monoteístas (cristã, muçulmana e hebraica) descendem todas do mesmo profeta, Abraão."
Eu, cidadão português e contribuinte activo, lamento e discordo do conteúdo desta declaração. Num post aqui em baixo já remeti para os fundamentos de Francisco José Viegas e podem ler outros bons argumentos para rejeitar esta declaração do MNE através da listagem que está a ser recolhida por Paulo Gorjão, no Bloguítica (além de tudo o que fui dizendo aqui no RdM).
Assim, solicito ao senhor Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros que nunca mais utilize a fórmula "Portugal" no início das suas declarações. Pode começar com "O Governo português lamenta..." ou outra que lhe pareça mais adequada e que não nos vincule a todos, enquanto Nação. O que não pode é fazer passar declarações cobardes como esta, como se fosse o dono do sentimento geral da Nação.
Nunca, por nunca, "Portugal lamenta..."! Eu também sou "Portugal" e este comunicado não fala por mim. (subscreva nos comentários, faça link..)
9 ComentÁrios:
Subscrevo os teus comentarios Ranys.
Um grande numero de paises fez declaracoes semelhantes, mas de entre todas as que li este consegue ser de facto a mais ridicula.
Freitas do Amaral tem feito um percurso que muito me tem desapontado. E esta "intervenção" atinge o auge da falta de personalidade. Confunde o acessório com o essencial. Será medo? Um país como a Dinamarca, nosso parceiro, com um Estado de Direito exemplar sofre um ataque completamente desproporcionado e a posição oficial de Portugal é de criticar. Criticar o quê? Será que considera que a lei não está correcta? Vamos proibir caricaturas? Proibir anedotas? Histórias de contos de fadas? Opiniões diferentes? Ou criar um "Comissão" para previamente verificar se o material pode ser publicado? Não passámos já por isso? Quem te viu e quem te vê Freitas!
Não posso estar de acordo convosco. Acho que esta é uma declaração equilibrada. Com que é que estão em desacordo? Com o dever de respeitar os símbolos que são sagrados para outros? Têm alguma dúvida que as lamentáveis caricaturas, publicadas num jornal conotado com a extrema direita xenófoba, se destinavam exactamente a provocar problemas com os países islâmicos? Que é que há de errado em dizer que se discorda da publicação de insultos destinados a provocar?
Não creio que alguém queira proibir a publicação de caricaturas, mesmo destas. Mas, parece-me, que também não se pode proibir de criticar aquilo que é publicado.
Caro PSeven,
Primeiro que tudo, não me parece que as caricaturas sejam assim tão ofensivas. No fundo, todos bem sabemos que elas visam expor o radicalismo islâmico, terrorista e prepotente.
Depois, acho que é muito difícil um islamita, no Irão, chocar-se com o que é publicado num jornal da Dinamarca do qual mesmo nós, aqui na Europa, nunca tinhamos ouvido falar (já agora, o que lhe permite dizer que o jornal é da "extrema direita xenófoba"?)
E, se não se quer proibir a publicação seja do que for, quere-se o quê? Para que vale esta declaração? Interessa a quem? É uma lição de religião e moral, bom gosto e bons costumes? Não é isso que compete ao Ministro.
Mas, acima de tudo, exige-se ao ministro de Portugal uma palavara de solidariedade com um parceiro europeu, o repúdio das ameaças e violência e dos pedidos de morte aos caricaturistas. Dizer isto era, na minha opinião, o mais importante. E foi justamente isto que Freitas não disse. Para mim, reafirmo, esta declaração é uma vergonha para quem a produziu e embaraça-nos a todos.
Acima de tudo, julgo que a declaração de Freitas denota cobardia, demonstra um pensamento pequenino, quiçá economicista, de "não vamos afrontá-los senão..."
Por outro lado, e correndo o risco de ser politicamente incorrecto, será talvez a reacção que, a curto prazo, mais serve os interesses de Portugal - tanto económicos como os de segurança (interna e externa - os portugueses que estão no Afeganistão, no Iraque, etc). É isto a realpolitik, é isto "la raison d'état".
Convenhamos, enfim, que não é muito ético nem, vá, uma posição muito moral. Mas é uma posição pragmática pragmática tendo em conta um objectivo. Devemos orgulhar-nos disto? Não...
Até porque, se é a posição mais benéfica (ou menos prejudicial) a curto prazo, estou convencido que a médio-longo prazo menos pragmatismo e mais principios (esses sim, éticos e morais) nos trariam mais vantagens.
Caros El Ranys e Rantas
Não percebo como é que se pode pôr, ainda, em causa o caracter ofensivo e provocatório das caricaturas. Mesmo tendo em conta que houve manipulação e aproveitamento político por parte de radicais islâmicos, teria sido impossível provocar tudo aquilo se as caricaturas não produzissem, num muçulmano normal, um sentimento de repulsa e de ofensa. Vocês sabem, por exemplo, que a simples representação de Maomé é proibida, pelo Islão? Imaginem um muçulmano que é chamado 3 vezes por dia, 365 dias por ano, a reafirmar a sua fé, que interiorizou tudo isto e que é informado que, num país que não conhece, alguém desenhou Maomé, numa fila para ser identificado como criminoso? Já dá para perceber como é que o Islamita Iraniano se sente revoltado?
Quanto ao jornal ser xenófobo é algo que tem sido profusamente divulgado. O primeiro a que ouvi essa informação foi Marcelo Rebelo de Sousa no domingo passado, mas não foi o único.
Partindo daqui, eu não acredito na ingenuidade dos responsáveis do dito jornal e que não tivessem a intenção de provocar os muçulmanos. Creio, é que isto teve, para eles, um “êxito” muito superior às suas expectativas: eles queriam apenas provocar a comunidade islâmica na Dinamarca mas, com a ajuda dos radicais islâmicos, provocaram os de todo o mundo!
É por tudo isto que não condeno a declaração de FA. Tudo o que ele diz, relativamente às caricaturas é válido. Não mencionou os ataques e a violência, não só sobre os caricaturistas mas sobre tudo o que cheirava a Europeu, em diversos países muçulmanos? Verdade. Mas fê-lo depois. Era destinada a apaziguar os muçulmanos? Era. E que mal há nisso se o que se diz até é verdadeiro?
Quero deixar bem claro que condeno, sem a mínima reserva, não só a violência exercida sobre ocidentais em países islâmicos, como, ainda mais, os que manipularam a situação e criaram condições para essa violência ser exercida.
Caro Pseven,
As caricaturas são provocatórias. A sua publicação foi um acto de mau gosto. Das 4 ou 5 que vi, só consegui esboçar um meio sorriso com uma delas. Nem sequer têm piada, as sacanas das caricaturas!
Depois de estabelecido isto, falta o resto. É perfeitamente desproporcionado reagir a uma brincadeira de mau gosto da forma como muitos muçulmanos têm reagido. A uma birra de uma criança, deve reagir-se com indiferença, com elevação, com civilidade, enfim. Nunca com ameaças, com violência, com mortes.
No meu comentário anterior faltou uma componente, é verdade. Faltou dizer que concordo genericamente com a declaração de Freitas do Amaral. Apenas considero que lhe faz falta uma parcela para ser equânime: a condenação da violência desproporcionada de quem se sentiu ofendida com meia dúzia de desenhos parvinhos...
Tenho acompanhado toda a discussão sobre as caricaturas e bervemente postarei no Merdex.
Em relação ao Comunicado do nosso governo sou da opinião do El Ranys. É uma declaração que pretende ser de realpolitik mas que não passa de demonstração de vistas curtas, de rendição e até, de cobardia.
Aliás, foi o tom geral dos governos europeus.
Mas, temos que chamar à responsabilidade o chefe de governo, pois esta declaração, teve, evidentemente o beneplácito do Sócrates.
A reacção da Europa devia ter sido no sentido de exigir respeito pela pela nossa cultura, pelo nosso modo de vida, pelas nossas liberdades.
Não abdicamos da liberdade de expressão, foi um direito que custou muito e é um direito sagrado. Ninguém tem o direito de exigir que mudemos os nossos principios, se se sentem ofendidos, processem o jornal e as pessoas responsáveis. Essa é que é a nossa maneira de ser ressarcido de algo que está incorrecto. È um Estado de Direito.
Perdemos uma oportunidade de, com uma reacção diferente e a uma só voz, demonstrar aos extremistas religiosos que estamos determinados na defesa no nosso modo de vida.
Saúdinha
E de, pelo exemplo, conquistarmos também os islamitas moderados, aqueles que não se revêem no fundamentalismo e nas fatwas e jihads.
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