segunda-feira, março 07, 2005

Não fui ao tapete

A reboque da opinião e conselho de alguns conhecidos lá me enfiei numa sala de cinema para tirar as medidas ao último filme do Clint Eastwood. Para esclarecer a análise diga-se à partida que me conto entre os admiradores desta figura mítica do cinema norte-americano.

Nota à laia de pré-comentário: Há qualquer coisa de muito engraçado num gajo que já foi um pistoleiro down 'n dirty (o bom, o mau e o vilão), um justiceiro dos tempos modernos (dirty harry), um ícone quase oficial das séries B, actor dado como acabado, um realizador em início de carreira, um caso curioso, um ressuscitador de género (unforgiven), surpreendentemente humano (a perfect world), um romântico incorrigível (the bridges of madison county), e finalmente absolutamente brilhante (mystic river).

Vi o filme, emocionei-me com a história, apreciei a cinematografia, confirmei que a hillary swank é uma boa actriz, gostei muito de rever o morgan freeman, e acabei por sair do cinema com a boca a saber a pouco.

Não é que não reconheça méritos ao filme (que lhe reconheço bastantes) mas estava à espera de mais. Uma limpeza nos óscares e tanta conversa tinham-me levado a pensar que estávamos na presença de mais um tour de force, daqueles que deixa um amante de bom cinema em ponto de rebuçado.

Se calhar a culpa até não é do filme, ou melhor, não é deste filme. É antes um problema de análise comparada: não consigo pensar no Million Dollar Baby sem me lembrar do Mystic River. E levados os respectivos argumentos ao ringue, o ko é claro. O que em Mystic River era carne crua, neste é tarte de limão. O que era êxtase emocional, neste é análise social. O que era desespero, neste é esperança. O que era queda livre, neste não é.

Para mim, Million Dollar Baby é um filme belo, mas não é um belo filme. No entanto, faz todo o sentido que Hollywood lhe tenha estendido o tapete vermelho da consagração. O filme tem tudo para fazer os prazeres da moral made in america: o ideal do self-made man (neste caso, woman), a metáfora do herói caído em combate, o triunfo do bem (veja-se o caso da família disfuncional), e a necessidade de rematar as traições da vida com um final feliz, ou seja, com uma mensagem de esperança.

Venha o próximo...

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