Memórias de infância/adolescência -Volkswagen Carocha

Durante muitos anos, até ao início da década de 80, o carro do meu pai. Um VW Carocha 1600 c.c. branco, uma verdadeira bomba de cuja matrícula ainda me recordo. Inesquecíveis, as viagens longas, longas, para a festa de Natal, em Coimbra. Progenitores à frente, os quatro irmãos e inúmera bagagem bem espremidinhos, cá atrás.

Ainda não havia, neste País, auto-estradas e coisas quejandas (para Norte, saía-se de Lisboa, atravessava-se o centro do Carregado, Ponderosa - nos restaurantes "pôr-do-sol" ou "bigodes", penso que eram esses os nomes, os meus pais paravam para tomar um café -, passávamos por uma terra que se chama Venda das Raparigas, onde o meu pai ameaçava deixar as minhas irmãs se elas se estivessem a portar mal, e por aí fora...).

Depois de almoçar algures na serra d'Aire (restaurante "Boa Viagem", seria?), prosseguiamos a odisseia, com paragem na Batalha para ver o mosteiro, desentorpecer as pernas e beber uma água. Coimbra anunciava-se, já noite, à direita, feita a última de muitas lombas e curvas na estrada nacional 1.

Nessa altura, depois de várias picardias entre irmãos, pacificávamos repentinamente e cantávamos o "Coimbra é uma lição". Atravessávamos o Mondego pela ponte de S. Clara, subíamos para lá da Cruz de Celas e chegávamos finalmente a casa dos avós, cheia de primos e primas, tios e tias, correlativos e adjacentes, dezenas de pessoas que prolongavam o Natal por três ou quatro dias.

A saudade inventou-se a pensar no VW Carocha 1600 c.c. branco do meu pai.