Ainda o IPPAR
No seguimento de um post anterior sobre a trapalhada da exumação de D. Afonso Henriques, queria acrescentar ainda umas coisas.
De acordo com o Expresso, o IPPAR já deu autorização para que se avançasse com aquilo que estava previsto. Ou seja, todo o caso não passou de uma birra - por não ter sido ouvido, o Presidente do IPPAR - ou a Ministra da Cultura, não percebi bem - decidiu mandar parar tudo. "Alto, pára tudo! Pode ser que assim eles aprendam!". O busílis é mesmo este - quem são "eles"? Ou seja, contra quem foi tomada a decisão de mandar parar tudo? Por outras palavras, quem falhou?
Parece ser unânime a indicação de quem falhou - terá sido o responsável da delegação de Coimbra do IPPAR. Falhou porque não entendeu que a decisão era de tal ordem que deveria ser direccionada para Lisboa.
Julgo que também será unânime ver quem saiu prejudicado desta história toda - foi a antropóloga responsável pela investigação. Que não falhou minimamente, repare-se. E é neste detalhe que devemos deter-nos um pouco.
Fazendo um paralelo - se alguém da minha empresa toma uma decisão que eu considero que deveria ser eu a tomar, não a anulo de ânimo leve. Tenho a preocupação de verificar se a decisão é ou não demasiado penalizadora para a empresa. Ou seja, olho para o mérito ou demérito da decisão, e só se esta se revelar num ónus incomportável é que decido anulá-la. Naturalmente que o facto de a primeira decisão ter sido tomada afecta o meu julgamento, na medida em que existem danos caso eu decida reverter a posição inicial - o que não aconteceria caso a decisão não tivesse sido já transmitida ao meu "Cliente".
Na avaliação que faço periodicamente das pessoas que trabalham comigo, a pessoa que tivesse exorbitado a sua competência, tomando uma decisão que não estava mandatada para tomar, veria um sinal negativo. Ou não, depende do contexto - se eu não lhe tivesse feito ver atempadamente que, no meu entendimento, ela não tinha autonomia para tomar essa decisão, então o sinal negativo deveria aparecer era na minha avaliação.
Só num caso extremo, só mesmo se os interesses da minha empresa ficassem seriamente ameaçados com a decisão tomada por alguém sem habilitação para isso, é que eu iniciaria o processo de reverter a decisão, sendo que a minha primeira preocupação seria pedir desculpa ao meu "Cliente" e tentar minimizar o seu prejuízo, decorrente do mau funcionamento da "minha" empresa.
O que se passou foi que:
1. A decisão não estava mal tomada (caso contrário, não teria sido confirmada um dia mais tarde).
2. A antropóloga, juntamente com a sua equipa, não sabia de nada e ficou pendurada. Vou, não vou, o que é que faço aos espanhóis e ao equipamento, olha os custos a disparar, ninguém me diz nada, o que é que faço da minha vida...
3. A antropóloga fez tudo direitinho - há mais de um ano, dirigiu-se a uma entidade para solicitar a exumação. Foi ao guichet correcto, tirou a senha certa, esperou o tempo necessário (mais de um ano, porra! Para que será necessário tanto tempo?).
4. Quem decidiu - o Presidente do IPPAR ou a Ministra - não decidiu tendo em conta os interesses da "empresa", ou "sua" da entidade - o Estado Português. Decidiu tendo em conta o seu umbigo. Como é que decidem abrir o túmulo do D. Afonso Henriques e eu, que sou tão importante, não sei de nada!? Alto, pára tudo!
5. Quem perdeu, além da antropóloga, fomos nós todos. Porque foi mais um sinal da ineficiência da Administração Pública. E se as decisões só podem ser tomadas por uma ou duas pessoas, para quê tanta gente, alguém me explica?
Etiquetas: Rantas
4 ComentÁrios:
Parabéns Rantas! Sem qualquer ironia. Você é um funcionário conscencioso de uma empresa que funciona bem. Conheço muitas em que as coisas não se passariam como descreve! Antes pelo contrário.
Neste caso, a situação era apenas exemplificativa do que deveria suceder e não necessariamente do que possa ter acontecido :-)
A questão aqui é realmente de exigência com a "coisa pública". Os "Clientes", que somos todos nós, devem fazer o que esteja ao seu alcance para que o processo decisional na Administração Pública seja transparente e seja correcto - ou seja, tenha em conta os interesses superiores do País e não o ego de uma ou duas pessoas, apesar de transitoriamente poderem ser muito importantes. Transitoriamente, repito. Note-se que os danos causados à imagem de Portugal serão mais duradouros do que a importância pontual/efémera/conjuntural da Ministra ou do Presidente do IPPAR.
De facto quem cai no ridículo é quem manda parar tudo, só para perceber o que se passava, e depois de perceber diz..."ah é só isso...então está bem continuem lá!" são as chamadas forças bloqueio! Ou neste caso uma liderança fraca!
Esta história do IPPAR foi uma ganda porcaria!
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