Liberdade de expressão e bom-senso
Reafirmar a liberdade de expressão e dizer que, nos países civilizados, ela não pode ser limitada pela política, economia, religião ou qualquer outro tipo de interesses - organizados ou não - é um passo fundamental para o diálogo intercultural, não o contrário.
Dizer que, no exercício da liberdade de expressão, deve sempre prevalecer o bom senso, é dizer nada. Porque, na realidade, o bom senso (nomeadamente o aplicável à liberdade de expressão) não pode ser legislado, regulamentado, regulado. É uma impossibilidade teórica e prática. Qualquer tentativa nesse sentido conduz à censura.
A liberdade de expressão deve sempre ser defendida e reafirmada, apesar dos erros e abusos que dela resultem. A responsabilidade por esses erros e abusos é individual (podendo, em certos casos, transmitir-se solidariamente a outros sujeitos). E é no campo do estado de direito democrático (e, acrescente-se, laico) que serão dirimidas as questões de abuso. Não há responsabilidades colectivas.
Dizer isto, aqui, em Portugal, na Europa, é dizê-lo, sem hesitações, ao mundo. Porque esta não é uma "questão europeia". É uma questão de defesa de direitos básicos dos homens, de todos os homens. É a defesa dos que, nos países muçulmanos, gostavam de se exprimir livremente. Porque se calam os muçulmanos moderados? Não podem ter medo de falar. Essa é, também, a nossa luta. Ao afirmar (e praticar) a liberdade de expressão, transmitimos uma mensagem fundamental:. quem é contra os radicais, deve avançar, falar, combater politicamente. O exemplo tem de ser o nosso. Porque, com os radicais, não pode haver diálogo, ajudemos os outros.
3 ComentÁrios:
Gostei do teu post, El Ranys. O que está em causa é um conceito civilizacional, o valor da Liberdade.
Julgo que se faz uma confusão, mesmo que natural, quando se coloca na religião o acento tónico.
A Fé em Alá e Maomé é um Direito que respeito e não discuto. O que já não respeito é a civilização saída dos países que maioritariamente professam essa Fé, que têm práticas que, como ser livre, rejeito e combato: o tratamento dado às mulheres, a aplicação da Justiça medieval, o poder autocrático, a Jhiad, etc. etc.
Se enquanto cidadão do Mundo sou obrigado a conviver com esses sociedades, por questões de real politik, não quer dizer que sequer as respeite.
A Fé já justificou muitos poderes iníquos, e a colagem que se pretende fazer dizendo que essas sociedades são a expressão política da Fé islâmica parece-me um abuso.
Por isso, parece-me um pouco deslocado falar em moderados: essas sociedades são todas horripilantes, só variam de grau. Tenho que encontrar maneira de as trazer para a Liberdade, mas esse será sempre um processo demorado, em que não posso ter a arrogância de pretender ser a Luz.
O caso concreto dos cartoons, de que nem sequer gosto, ou do terrorismo, é um exemplo claro dessa guerra civilizacional, com esses seguidores a quererem obrigar-me a adoptar as suas regras sociais. Parte da reacção ocidental envergonhou-me, como se eu tivesse que pedir desculpa por ser livre.
Tem havido imensas manifestações culturais que me ofendem enquanto católico, desde cartoons ao filme do Scorcese, mas faz parte da minha Liberdade que elas possam existir. E disso não abdico.
El Ranys e Obélix, subscrevo tudo o que escrevo.
Aliás, considero que, mais uma vez, a Europa perdeu uma oportunidade de demonstrar unidade na defesa,intrasigente dos seus Valores, Principios e Direitos. Com esta "cedência", apenas temos que aguardar a próxima crise, sempre mais grave, e nesta escalada não sabemos como vai terminar.
Saúdinha
Tocaste num ponto fundamental, el Ranys. O direito à opinião individual e à sua expressão livre, sem medo foi uma conquista dificil, longa pela qual imensos lutaram até à custa das próprias vidas. É um orgulho para a civilização Ocidental. Naturalmente também cada um terá o direito, quando se sente ofendido de apelar para os tribunais e responsabilizar aqueles que abusaram dessa liberdade de expressão. É este o nosso modo de vida. Mas por razões pouco determinadas, há um sentimento de humilhação generalizado no mundo muçulmano que não concebe ter perdido a hegemonia. Apelando à religião, define o Ocidente como causa de todos os males. Não se limita a "aspirar" ao regresso do califado antes exige que quem não o aceite deva desaparecer. Querem islamizar a modernidade, quando o que seria lógico seria modernizar o islamismo. Estamos num beco sem saída?
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